quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Nivelando primeiro e terceiro mundo

Vamo dançando enquanto a revolução não chega.

Trecho sensa de uma das lendárias apresentações da banda pós-punk holandesa The Ex com o saxofonista etíope Getatchew Mekurya. Logo mais eu desenvolvo (ou não) e trago novidades (bem provável!).

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Falso início

Resolvi dar um tapa na mobília. Passar o dedo na camada de poeira e ver o que ainda sobrava ali embaixo, parado. Descobri um bocado de entulho e joguei muito disso fora.

A insalubre edícula estava prestes a desmoronar. Uma ratazana cinza de meio metro havia penetrado pela fresta da porta, depois de atravessar o matagal do quintal, e procriado ali dentro. Não parecia bom sinal. Tinha tempo que este lugar estava indeciso se morria ou não. O abandono não era mero desprezo: era um gesto ostentivo. Se acontecesse, não seria algo a se lamentar.

A cara mudou um pouco, mas é só o ponto de partida. Por enquanto, mal consigo praticar os projetos novos que tenho em mente. A cada vez que ouso compartilhá-los com alguém por perto, é balde d'água fria na certa. Sem contar as gralhas histéricas aqui do trabalho e suas risadas cancerígenas. A hora é de continuar em silêncio, mas, depois de bastante tempo, rascunhar convulsivamente.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Da série 'passou pelo mp3 e não deixou saudades'.

Embora alguns sem-noção como este que aqui escreve ainda resistam bravamente, todos sabem que a abolição do CD para o grande público é iminente. Nenhuma novidade até aqui. Mas, entre os que respiram música e procuram constantemente alimento para os ouvidos, nem todos se deram conta do processo "evolutivo". Muitos discos que ainda nem saíram em formato físico chegam quentinhos no desktop e vão para a lixeira poucos dias depois (às vezes, poucos minutos depois), quase despercebidos. Entram por um ouvido e saem pelo outro, literalmente. Aqui vão alguns que passaram por aqui nas últimas semanas, todos lançados/vazados em 2008. Em breve, mais uma fornada.

Death Cab For Cutie - Narrow Stairs
Conhecia de nome e sabia que um dos membros produziu um disco recente do Nada Surf. O pouco que ouvi de Plans, álbum anterior deste quarteto americano, já avisava: tudo bonitinho, limpinho, insípido, devagar, quase parando. Deveria ter parado por ali, mas sou cabeça-dura. Banda adorada por indie-rockers nerds (pleonasmo?) do hemisfério norte, o DCFC faz a típica trilha de séries como O.C., com músicas longas, sem pegada, sem melodia marcante. Letras "rapazinho sensível" com pretensões literárias - tem até citação a Kerouac - mas sem inspiração. Guitarrinhas murchas, voz comportada, teclados modorrentos e contínuos. Sono, muito sono. Ouvir Narrow Stairs de cabo a rabo é como comer aquela sobremesa que ficou semanas na geladeira.

Hold Steady - Stay Positive
Tiozinhos elogiados por sites gringos como o Pitchfork e presença constante em listas de melhores do ano de revistas tipo Uncut, Mojo e yadda-yadda-yadda. A banda até que é boa: influências de Springsteen e Replacements, refrãos que funcionam em arena e letras espertas que, na verdade, são pequenos contos sobre gente bêbada e passional. Os únicos problemas com este disco são:
(1) O vocalista, com sua indefectível voz de pato, precisa de um fonoaudiólogo urgente. E a cada faixa ele insiste nos mesmos maneirismos: voz anasalada proferida com sofreguidão, quebrando a métrica. Começa a cansar na metade.
(2) De vez em quando a banda finca o pé na farofa. Uma faixa, por exemplo, é conduzida por um cravo, instrumento de gosto bem duvidoso. Em outra, uma belíssima balada, entra uma guitarra solando à la Richie Sambora.

Howlin' Rain - Magnificent Friend
Definida por muitos como o Purple clássico com os vocais de Rod Stewart dos bons tempos (anos 60 e 70), esta banda de San Francisco é exatamente isso e não vai muito além. Não que seja pouco. A mistura de soul, hard rock, blues e psicodelia, com direito a timbres e produção vintage, chega a empolgar em alguns momentos. Ao vivo deve ser potente. Com uma cerveja geladíssima acompanhando, então, perfeito. Poderia ser daquelas bandas que nunca gravam, só viajam por aí tocando em feirinhas da Pompéia, viradas culturais e bibocas da Louisiana. Mas o disco, embora interessante, chega a ser caricato. E nem seria preciso dizer, mas vá lá: não faz nem sombra a um Exile on Main Street ou mesmo aos melhores do Black Crowes.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Apesar do 1° de abril...

19° Cartório de Registro Civil, Perdizes, por volta de uma da tarde. Aproveito minha semana tranqüila, pós-trabalhos tensos, para dar prosseguimento à abertura da encantada ME. Enquanto aguardo berrarem o número 272, minha senha, dou uma geral na fila de gente com cara de nada, espalhada por bancos ensebados e paredes curtas. A única figura que destoa no meio dos burocratas é um cara grandão e barbudo, totalmente coberto de tattoos esverdeadas, dos punhos até o pescoço, usando dreads, bandana, rayban e chinelo. Naipe de músico, lembra o Rick ta Life. Avisto o elemento ao mesmo tempo que um provável velho conhecido dele, que chega dizendo:

- Fala, meu velho! Como é que tá?
- E aê, fulano! Quanto tempo, hein?
- Pois é. E aí, o que tá fazendo?
- Tava parado por um tempo, mas voltei a tocar.
- Legal. Tá fazendo som com quem?
- Tô tocando na banda do Gilliard, cara.

quarta-feira, 19 de março de 2008

R.E.M. - Accelerate


Para muita gente, eles já deram o que tinha que dar. É a parcela do que público que, embora ainda preze a banda e ouça seus principais hits, deixou de acompanhá-los em algum momento dos anos 90. E é bem provável que esses quarentões da Geórgia, no sul dos EUA, já tenham deixado os demais mortais a par sobre os seus melhores trabalhos. Eu mesmo já havia parado de prestar atenção no que o R.E.M. lançava desde o irregular Up, de 98. Ok, tive vontade de vê-los três anos depois, no Rock in Rio III, mas não deu - acabei me contentando com um show farofeiro e no piloto automático dos Chili Peppers. Demorei até gostar de verdade do Reveal, um disco belo e subestimado. Já o mais recente Around The Sun, de 2004, ouvi poucas vezes ao pegar emprestado de um amigo que é grande fã da banda. Foi o suficiente para carimbá-lo como o ponto mais baixo, talvez o único momento constrangedor em 20 e tantos anos. Posso estar sendo simplista, mas discurso político pró-democratas (foi lançado pouco antes do Bush se reeleger em cima do Kerry) e arranjos eletrônicos broxas não combinam com Stipe, Mills & Buck.
O forte deles sempre foram canções redondas. Baladas matadoras acústicas e orquestradas, levadas roqueiras intensas e boas canções pop, sempre com sotaque interiorano estadunidense e forte apelo universal. Mas a alternância entre os momentos introspectivos (ouça o New Adventures in Hi-Fi inteiro) e efusivos ("Shinny Happy People" é o exemplo mais óbvio) parecia começar a cair pelas tabelas. Accelerate, o novo disco que está para sair, inverte toda essa lógica. Havia tempos que a banda não soava tão energética e concisa. A empolgante seqüência das três primeiras faixas já denuncia: Peter Buck, com quase cinqüenta anos, volta ao primeiro plano e continua sendo ótimo guitarrista. Com faixas curtas e roqueiras, o disco soa como uma versão mais otimista do melancólico Monster, de 94, álbum distorcido e com gosto amargo pós-suicídio de Kurt Cobain. Ainda ouvi poucas vezes o novo, mas já arrisco dizer que me enganei ali em cima: talvez o R.E.M. ainda possa surgir com material tão bom quanto o melhor que já fez. Accelerate dá essa pista.


- Quem peidou tá com a mão amarela.
- ...I beg you pardon?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O ogro e a mademoiselle


Como eu dizia no post anterior, apesar de Greg Dulli e Mark Lanegan ostentarem a banca de fanfarrões, ambos andam mais produtivos do que nunca. Prova disso é a notícia que acabo de ler: sai em maio Sunday at Devil Dirt, segundo fruto da parceria de Lanegan com a escocesa Isobel Campbell, apenas dois meses após o début do Gutter Twins ir para as lojas.
Considerando o primeiro trabalho, Ballad Of The Broken Seas, as expectativas são altas. Isobel deixou de ser aquela menininha inocente dos primeiros discos do Belle & Sebastian, quando emulava muito insossamente o canto etéreo da junkie Marianne Faithfull (fase 60's). Não acompanhei sua carreira solo, tampouco me empolguei com o pouco que ouvi de seu outro projeto, o Gentle Waves. Mas, enquanto entrava na casa dos 30, Isobel compunha sozinha Ballad... (assim como o novo, pelo que consta). Com uma sonoridade mais americana, com um pé no folk e o outro em Morricone, ela manteve ali o que tinha de melhor: sofisticação e graciosidade. Mark Lanegan confirmou ser um excelente coadjuvante, surgindo sempre com uma interpretação inspirada e etílica. Um pensamento bem metafórico e clichê vem à cabeça para tentar definir o álbum: se O Segredo de Brokeback Mountain fosse sobre um casal hétero, teria Ballad of The Broken Seas como trilha sonora.
Enfim, tentarei deixar links e escrever algo por aqui quando puser os ouvidos no novo disco.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008


Caiu na rede o primeiro disco do Gutter Twins, Saturnalia.

Para quem não sabe, trata-se do novo projeto envolvendo Greg Dulli e Mark Lanegan, os melhores cantores e grandes cafajestes do rock americano da atualidade. Na verdade, a idéia nem é tão nova assim. Dulli e Lanegan já eram figuras manjadas desde o meio dos anos 90, quando suas respectivas bandas, Afghan Whigs e Screaming Trees, apareceram para um público além do moleque indie americano que costumava ir aos shows. É aquela história que você já leu milhares de vezes: estouro do Nirvana, valorização de passe do rock alternativo (quando isso não era palavrão), bandas pegando o bonde andando, contratos. Para saber mais detalhes, alugue aquele filme Hype!.
As primeiras notícias de que os dois trabalhariam juntos datam de 2003. De lá para cá, Lanegan participou de faixas do Twilight Singers, a principal empreitada de Dulli depois que este desmanchou o Afghan Whigs (banda de cabeceira deste que aqui escreve) na virada da década. Lanegan alterna discos solo com participações em trabalhos de gente interessante como Queens of the Stone Age, Soulsavers e Isobel Campbell (ex-Belle & Sebastian). Com esta última, aliás, ele fez Ballad of the Broken Seas, um dos álbuns mais belos e surpreendentes de 2006.
Dulli, por sua vez, vem lançando uma série de bons discos com os "cantores do crepúsculo", mas seu ponto alto foi o último trabalho dos Afghan Whigs, 1965. É daqueles discos perfeitos (e olha que eu faço afirmações assim com parcimônia), que, num mundo ideal, faria rodar o globo espelhado em qualquer casa de camélias que se preze.
Em Saturnalia, embora os dois participem de todas as faixas, nota-se de cara que é Mr. Dulli quem dá as cartas. Há algum tempo o cara desenvolveu um jeito de compor bem típico, que, apesar de se repetir (ou por isso mesmo), raramente dá errado. Fissurado pelos soulmen da Motown e Stax, ele encarna uma espécie de Marvin Gaye branco e mais visceral, cantando histórias (verídicas?) cheias de fornicações, relações despedaçadas, meretrizes, amor doentio e drogas. Vamos combinar: alguém que já cantou "Ladies, let me tell you about myself/I got a dick for a brain" deve ter pouca moral com as sogras, não é mesmo? E a cada nova remessa de músicas, ele recria e recombina a batida de "Sexual Healing" com uma levada mais roqueira, entorpecida e, por vezes, melancólica, que serve como base para seu vocal "raspado" e extremamente passional. Lanegan complementa isso muito bem com seu barítono ébrio e cavernoso, impregnado de nicotina. Herdeiro de outsiders como Tom Waits e Jeffrey Lee Pierce (falecido líder do Gun Club, banda que pretendo ouvir mais), o ex-Screaming Trees deve ser daqueles sujeitos que exalam cigarro pelos poros. Confira sua performance na sexy e pesada "Idle Hands" ou na sombria "All Misery/Flowers".
Bom, já falei demais. Seja esperto e dê ouvidos a esses dois canalhas. E torça para que em breve tenham a chance de conferir a "nossa" caipirinha em algum festival brasileiro!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sobre dedos e canivetes suíços

Hoje percebi uma coisa: embora meu modesto mp3 player tenha me ajudado a atenuar as agruras do dia-a-dia no último ano, ele me priva de ouvir o que há de mais lúdico e cruel na prática de praguejar a quem quiser ouvir. Ao entrar no vagão do trem e notar várias pessoas se entreolhando e rindo, localizei um senhor de uns 60 anos sentado na ponta de um banco, vestindo camisa, calça dobrada até o joelho e chinelos, lembrando vagamente algum personagem de programas de humor decadentes que envolvam escolinhas, praças ou zorras.

- ... o Bobô fazia muito gol e foi campeão brasileiro com o Bahia, mas sabia que o Barradão ia desabar! Só ELE sabia!! Bem feito, agora o Bobô tá preso! E o Bahia tá jogando no estadio do Vitória, vê se pode!! Igual ao Corinthians, que nem endereço tem. Eu fui até lá em Itaquera outro dia pra procurar e não encontrei nada, só mato!
Alguns possíveis corintianos olham feio para o sujeito.
- Próxima estação: Cidade Jardim...
- ... porque eu cortei o meu dedo pra me aposentar!!! Agora eu me aposento, nem que vá até a OAB! Vou falar com os adévogados! Não vou ficar sem dedo e besta, que nem o presidente.
Gargalhadas.
- Isso aê, tio. Ranca o dedão fora!
- Próxima estação: Berrini...
- Ô seu prefeito, quero luz na minha ruaaa... pra morar com minha mulher, meu filho e meu amigo... - Começa a cantar, usando a melodia de "Respeita Januário", do Luiz Gonzaga. De repente, interrompe e anuncia - Pra quem não sabe, essa música é de minha autoria!
- Próxima estação: Granja Julieta...
Saio do vagão e, enquanto atravesso a passarela, começo a achar que preciso dar mais atenção a estranhos na rua.

Na semana passada eu deixei o mp3 no chão e, como quase sempre a truculência surge em momentos de distração, pisei nele sem querer. Quando ouvi o estalo, pensei que tinha acabado de inutilizar o aparelhinho, mas só trincou o vidro. Pode ser um começo.

E até onde eu saiba, Barradão é o estádio do Vitória. O que desabou foi a arquibancada da Fonte Nova.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

2008... Agora vai?

Nunca soube explicar direito por que, mas acho que funciono melhor nos anos pares. Já os ímpares seriam os mais áridos, os que exigem mais esforço para se sair do lugar. Também não me pergunte o motivo, mas vivo dizendo por aí que, se fizer uma fézinha na Mega Sena um dia, vou faturar a bolada (detalhe: nunca joguei na vida). Ainda não descobri, mas pretendo um dia entender por que resolvo empacar quando já nadei atravessando a rebentação. Mudei de trabalho nesse começo de ano, mas ainda estou insatisfeito. Fui obrigado a trabalhar com mais autonomia, mas a base às vezes ainda treme, como a faixa de pedestres da Consolação com a Paulista. Comecei a usar a esteira de caminhada/corrida do prédio, mas a circunferência abdominal ainda não deve ter acordado na segundona pós-Carnaval. Perder o show do ancião Dylan também está sendo uma idéia difícil de se acostumar, mas o preço ridículo e a performance no modo Alzheimer ativado do mestre me conformam. O jeito é colocar mais assuntos na roda por aqui, mesmo que seja uma variante capenga do famoso tudo-sobre-o-nada que deixou o Jerry Seinfeld milionário. Mais uma tentativa, campeão!