quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008


Caiu na rede o primeiro disco do Gutter Twins, Saturnalia.

Para quem não sabe, trata-se do novo projeto envolvendo Greg Dulli e Mark Lanegan, os melhores cantores e grandes cafajestes do rock americano da atualidade. Na verdade, a idéia nem é tão nova assim. Dulli e Lanegan já eram figuras manjadas desde o meio dos anos 90, quando suas respectivas bandas, Afghan Whigs e Screaming Trees, apareceram para um público além do moleque indie americano que costumava ir aos shows. É aquela história que você já leu milhares de vezes: estouro do Nirvana, valorização de passe do rock alternativo (quando isso não era palavrão), bandas pegando o bonde andando, contratos. Para saber mais detalhes, alugue aquele filme Hype!.
As primeiras notícias de que os dois trabalhariam juntos datam de 2003. De lá para cá, Lanegan participou de faixas do Twilight Singers, a principal empreitada de Dulli depois que este desmanchou o Afghan Whigs (banda de cabeceira deste que aqui escreve) na virada da década. Lanegan alterna discos solo com participações em trabalhos de gente interessante como Queens of the Stone Age, Soulsavers e Isobel Campbell (ex-Belle & Sebastian). Com esta última, aliás, ele fez Ballad of the Broken Seas, um dos álbuns mais belos e surpreendentes de 2006.
Dulli, por sua vez, vem lançando uma série de bons discos com os "cantores do crepúsculo", mas seu ponto alto foi o último trabalho dos Afghan Whigs, 1965. É daqueles discos perfeitos (e olha que eu faço afirmações assim com parcimônia), que, num mundo ideal, faria rodar o globo espelhado em qualquer casa de camélias que se preze.
Em Saturnalia, embora os dois participem de todas as faixas, nota-se de cara que é Mr. Dulli quem dá as cartas. Há algum tempo o cara desenvolveu um jeito de compor bem típico, que, apesar de se repetir (ou por isso mesmo), raramente dá errado. Fissurado pelos soulmen da Motown e Stax, ele encarna uma espécie de Marvin Gaye branco e mais visceral, cantando histórias (verídicas?) cheias de fornicações, relações despedaçadas, meretrizes, amor doentio e drogas. Vamos combinar: alguém que já cantou "Ladies, let me tell you about myself/I got a dick for a brain" deve ter pouca moral com as sogras, não é mesmo? E a cada nova remessa de músicas, ele recria e recombina a batida de "Sexual Healing" com uma levada mais roqueira, entorpecida e, por vezes, melancólica, que serve como base para seu vocal "raspado" e extremamente passional. Lanegan complementa isso muito bem com seu barítono ébrio e cavernoso, impregnado de nicotina. Herdeiro de outsiders como Tom Waits e Jeffrey Lee Pierce (falecido líder do Gun Club, banda que pretendo ouvir mais), o ex-Screaming Trees deve ser daqueles sujeitos que exalam cigarro pelos poros. Confira sua performance na sexy e pesada "Idle Hands" ou na sombria "All Misery/Flowers".
Bom, já falei demais. Seja esperto e dê ouvidos a esses dois canalhas. E torça para que em breve tenham a chance de conferir a "nossa" caipirinha em algum festival brasileiro!

3 comentários:

Daniel Boa Nova disse...

Da hora!

Quero escutar!

Anônimo disse...

Como não conheço nada, fiquei curioso. Mas o mais interessante de ser amigo de crítico musical, é esperar que ele, além de criticar, também te empreste o cd. Será?

guZZ disse...

Very nice indeed!!

Já baixado e aprovado!

Abzz