terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Quase lá...

Recesso oficialmente iniciado, agora é hora de não justificar mais a preguiça e colocar na roda mais alguns petiscos que também valem a pena serem conferidos. Mais uma vez, sem ordem de importância.

Air - Love 2
Provavelmente o melhor disco deles (dos que ouvi). Quase um Floyd desempoeirado e repaginado.
Arctic Monkeys - Humbug
Enfim lançaram algo não constrangedor. Com Josh Homme dando pitacos, boas ideias vieram.
Bill Callahan - Sometimes I Wish We Were An Eagle
Tão bucólico que dá pra sentir cheiro de capim ouvindo esse disco.
Black Drawing Chalks - Life Is A Big Holiday For Us
Como assimilar Rated R em Goiânia sem soar tabajara. Difícil, mas possível.
Bob Dylan - Together Through Life
Um pouco abaixo do Modern Times, mas com os mesmos honky-tonks safados e/ou nostálgicos.
Brakes - Touchdown
Rock pixieano desleixadão. Melhor do que qualquer coisa que um ex-Pixies faça atualmente.
Built To Spill - There Is No Enemy
Passei a gostar da banda só agora. O caminho do meio entre o punk, o folk-rock e o psicodélico.
Conor Oberst & The Mistic Valley Band - Outer South
Segundo rolê do carinha do Bright Eyes por solos mexicanos. Acho melhor do que BE.
Depeche Mode - Sounds Of The Universe
Dá pra pescar boas pérolas nesse disco nota 6,5 do Depeche.
The Drones - Havilah
O Crazy Horse com sotaque australiano, mais caótico e entupido de guitarras.
Franz Ferdinand - Tonight: Franz Ferdinand
Com algumas experimentações ainda tímidas, deixando a expectativa de pirações maiores pra próxima.
Leonard Cohen - Live In London
Não sou fã de discos ao vivo, mas este do velho budista é literalmente de chorar.
Mars Volta - Octahedron
Menos intrincado que os anteriores. "Teflon" talvez seja a coisa mais Led Zeppelin que fizeram.
Mission of Burma - The Sound The Speed The Light
Mais uma carraspana dos cinquentões, que voltaram em 2004 após 20 anos parados. Mais agressivo e criativo que 90% dos "pós-pós" anos 2000.
Neil Young - Fork In The Road
Talvez o segundo melhor do véio na década, perdendo pro Prairie Wind. Mas rola um cansaço.
Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix
Ano da França no Brasil com mais um francês na lista. Pop eletrônico ultrapegajoso.
PJ Harvey & John Parish - A Woman A Man Walked By
Segundo encontro dos dois, sempre estranhão. PJ dificilmente erra, e Parish é um puta músico.
Wilco - Wilco (The Album)
Abaixo dos três anteriores - compreensível, pois os três são quase perfeitos -, talvez seja o disco mais pai-de-família deles. Calmaria do bem.

domingo, 20 de dezembro de 2009

E aqui vai a segunda parte...


Danger Mouse & Sparklehorse - Dark Night Of The Soul
Este eu só ouvi aos 45 do segundo tempo. Produtor dos mais requisitados da praça, Danger Mouse passou boa parte de 2009 na maciota. Mas conseguiu fazer bonito colaborando pela segunda vez com Mark Linkous, sujeito que também responde pelo valium com champanhe em forma de música chamado Sparklehorse. O projeto, que também envolve um livro de fotos do David Lynch e passou por imbróglios judiciais com gravadoras antes de sair, junta vários chegados gente-fina como Wayne Coyne, Nina Persson, Iggy Pop, Black Francis, Jason Lytle e Vic Chesnutt (o mais bizarro). Tem também o Julian Casablancas, que não compromete. Todos emprestam voz às canções etéreas de Linkous, que ornam perfeitamente com aquela textura distinta suja-psicodélica do Mouse. Coisa linda. Sente o drama


Flaming Lips - Embryonic
Experimental e admiravelmente incômodo como não era desde o elefante branco Zaireeka, ainda nos anos 90, o Flaming Lips lança um álbum menos convidativo, menos agridoce, menos panda de pelúcia no palco do que seus três anteriores. Boa sacada da tripulação do Wayne Coyne. Nada contra a empatia fácil causada pelas peripécias de Yoshimi, por exemplo, mas antes da passação de mal que foi o filme e a trilha Christmas On Mars, de 2008, a tendência parecia ser traçar rotas mais seguras. Dando sequência à guinada, Embryonic, com sua sonoridade quase krautrock em vários momentos, confunde os mais sensíveis de paladar auditivo (err... sinestesia tem tudo a ver com o disco!). Outra teoria rasteira: como sobrevoar os anos 70 - inclusive pelo formato em vinil, duplo - sem soar revisionista. :) Passa a mão


Grant Hart - Hot Wax
Poucos ouviram e vão ouvir esta pérola aqui. Enquanto o eterno ex-Hüsker Dü Bob Mould lançava mais um solo meia-boca este ano, seu titubeante ex-parceiro/rival de banda quebrou 10 anos "sabáticos" com um belo disquinho: de produção modesta, mas ótimas ideias. Hart é nome cult entre roqueiros underground acima dos 30 - virou até nome de música dos Posies - e, para usar mais um daqueles clichês infalíveis, incorpora um suposto encontro furtivo de Bowie com Brian Wilson tendo os Seeds ou os Sonics como banda de apoio. Em outras palavras: harmonias vocais bem marcadas, órgãos sessentistas e uma cama áspera de guitarras. Try it


Fool's Gold - s/t
Do balaio de bandas recentes que abraçam a África às custas de um malandro intercâmbio social pós-Byrne ou pós-Paul Simon (variantes do nosso pós-tropicalismo caetânico liiindo), o Fool's Gold é das mais convincentes. Formado na Califórnia por dois israelenses e contando com alguns sul-americanos na jogada, o coletivo se distancia das levadinhas simpáticas e esqueléticas do Vampire Weekend - prefere grooves tribais mais preguiçosos, hipnóticos, muitas vezes cantando em hebraico. Alguma influência do Leste Europeu também aparece aqui e ali, mas sem a pegada punk rock do Gogol Bordello. Enfim, pode até ser a típica banda que agrada críticos musicais e curadores de eventos, mas o preconceito vai por água abaixo assim que começa a lânguida "Nadine". Ou durante a instrumental "Night Dancing", em que violões de linhagens balcânicas se enroscam com um naipe de metais afrobeat. Chaparral! Veja qualé


Jarvis Cocker - Further Complications
Se tinha uma banda que não me despertava nada enquanto existiu e teve espaço, foi o Pulp. Com suas letras estilo "tapa com luva de pelica", sempre elogiada por críticos e com séquito considerável, me barrava um pouco por aqueles arranjos afetados, que os fãs chamam de "suntuosos". Mas quando Jarvis lançou em 2006 seu primeiro solo e resolvi ouvir por motivos aleatórios, passei a respeitar. Com a tradicional pinta de professor de linguística e pernas de graveto trajando ternos risca-de-giz, ele não perdeu a mão para escrever mas anfetaminou um tanto o som. Basicamente, trocou alguns referenciais: saem de cena Scott Walker e o pop cameristico e entram Bowie e Iggy Pop fase Lust For Life, sem que isso pareça oportunista ou rançoso. Agora, no segundo solo, a coisa engrenou. Comecei até a simpatizar com algumas coisas do Pulp, como o álbum We Love Life. Só alegria


Cidadão Instigado - Uhuuu!
Para não dizer que não coloquei nada nacional, vai um que representa legal. É o disco mais bem acabado da banda, ao mesmo tempo bastante acessível e psicodélico. Os fraseados tortos da guitarra do Fernando Catatau, na escola do tropicalista Lanny Gordin, estão cada vez melhores. Destaque óbvio pra faixa "Homem Velho", em que ele sonha com o "homem sério" Neil Young dançando reggae na praia de Canoa Quebrada com uma nativa e oferecendo-lhe canções bonitas. Melhor é impossível! Dá uma orelhada


NOMO - Invisible Cities
Mais música negra tocada por branquelos diretamente de Michigan, EUA. Alternando algumas digressões lisérgicas e várias levadas quebradaças de baixo e bateria, mas sempre com a gorda e criativa seção de metais à frente, a banda seria perfeita para acompanhar o black president Fela Kuti caso o nigeriano ainda estivesse neste mundo. Ouvindo repetidas vezes Invisible Cities, dá para imaginar o vozeirão do hômi entrando de solapa quando os fraseados repetitivos já te pegaram de jeito. E com direito a boa versão de "Ma", do Tom Zé. Pensando bem, ficou melhor que a original. Dá uma sacada


Alice In Chains - Black Gives Way To Blue
Pearl Jam - Backspacer

Sem muitas elucubrações aqui. Se você é um cidadão de meia-idade cansado e nostálgico, vai repetir mentalmente "Porque o grúngi nunca há de morrê!" e baixar sem medo esses dois disquinhos, que são melhores do que o cool avant-garde descolado imagina. Se você não se encaixa no grupo acima, pode ouvir os dois sem procurar desculpas. Confere um e depois o outro

E a África do Sul é logo ali!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ah, as eternas efemérides...

Nada mais saudável e picareta do que salvar mais uma vez este blógue do estado catatônico aplicando aquela famosa listinha dos bons discos do ano. Aliás, como nunca antes eu havia feito isso, me parece ainda mais adequado. Vamo que vamo então, lembrando que não tem ordem de preferência aqui. Só preferi fugir do tradicional top 10 por questões preguiçosamente explicáveis, e o serviço de utilidade pública que ofereci para adquirir grátis todos os discos online foi por água abaixo, com direito a bronca por e-mail do Mr. Blogger (nada que uma fuçada aqui não resolva). Caso as escolhas estejam muito previsíveis ou se algum disco imprescindível ficou de fora, você tem aquelas duas opções de sempre: me xingar nos comentários ou criar a sua própria.



Sonic Youth - The Eternal
Para gente que começou a ouvir indie rock no início dos anos 90 nos Lados B e Rock Reports da vida - dentre os quais me incluo -, Sonic Youth hoje é classic rock tal qual o Jethro Tull para um senhor cabeludo-careca frequentador do Fofinho Rock Bar. Até aí, sem novas. O problema é que na década seguinte a trupe do Thurston roçou a estagnação, longe de soltar discos ruins, mas em vários momentos parecendo estar no piloto automático, deixando transparecer certa falta de viço. The Eternal alivia um pouco a barra com faixas mais inspiradas. Pode não representar uma nova invenção da roda a essa altura do campeonato, mas reforça aquilo que eles de melhor fazem. Melhor disco deles nos anos 2000, fácil.


Them Crooked Vultures - s/t
Confesso que esperava um pouco mais desta empreitada do Josh Homme, John Paul Jones e Dave Grohl (aqui na bateria, função que deveria cumprir full time). É daqueles discos manhosos, para serem tragados aos poucos, talvez feito com essa intenção mesmo. Mas a sagacidade da rapaziada dá as caras em faixas pesadas e grooveadas como "Gunman" e "Scumbag Blues", dentre as melhores do ano. Perde para a maioria dos discos do Queens of The Stone Age, mas só de colocar a repartição pública chamada Foo Fighters na geladeira, o projeto já ganha meu joinha.


Passion Pit - Manners
Quase um guilty pleasure, Manners poderia ser a trilha perfeita caso vivêssemos numa cidade chamada Neu Club, no estado do Milo Garage (péssima essa, né?). O Passion Pit é uma banda nova de Massachusetts, EUA. Faz indie-pop-eletrônico altamente pegajoso que lembra New Order fase Technique em alguns momentos, mas com aquela voz esganiçada e quase afrescalhada que é marca registrada das bandas pós-punk desta década, prima distante do Rapture. Uma coisa hiper "andando de carro ouvindo Oi FM São Paulo antes da balada na Augusta", sabe? Depois de mais essa infame tripudiada, só precisava dizer: a banda é muito divertida. E excelente para ouvir no mp3 player, correndo na esteira! hehe.


Dinosaur Jr. - Farm
J Mascis é tão filhadaputa, mas tão filhadaputa, que conseguiu reunir a melhor formação do Dinosaur Jr. para servir de banda de apoio disfarçada, sem que os outros dois tenham direito a mostrar suas composições ou tocar no mesmo volume que o fanho barrigudo. No máximo são permitidas tarefas mais aburridas, como dar entrevistas. E o pior é que tudo fica perfeito assim, todos estão cientes disso. Farm é o segundo disco da volta, tão destruidor quanto Beyond (2007). Cada faixa é uma espécie de homenagem de Mascis a ele mesmo, com aquele timbre de guitarra parrudo e ignorante (no melhor sentido).


Bruce Springsteen - Working On A Dream
Momento Rocky Balboa: além de ter a música-trilha do subestimado O Lutador, foi o disco que o Rogério Ceni disse ter ouvido enquanto se recuperava de uma lesão grave este ano. Quer melhor aval?? :)
Também é a continuidade da boa fase do Chefia desde The Rising (2002), que ironicamente partiu de um dos mais tenebrosos incidentes históricos recentes (11 de Setembro) para reerguer sua credibilidade discográfica após uma medonha década de 90.


Soulsavers - Broken
Segunda parceria entre os produtores ingleses e o gogó-de-lixa Mark Lanegan, mas o resultado da primeira incursão foi tão animador que decidiram chamar mais gente pra festa. Mike Patton, Richard Hawley (ex-Pulp), Gibby Haynes (Butthole Surfers), Jason Pierce (Spiritualized), uma tal de Red Ghost (entregando bem o cartão de visita), covers de Gene Clark e Will Oldham... tem de tudo ali, sempre com a boa e velha cortina de fumaça.


John Frusciante - The Empyrean
Já que parece certa a saída de Frusciante dos Chili Peppers, aumenta a chance de material bom como este surgir quase todo ano. Se a coisa não degringolar de novo para a rotina dos cachimbinhos sinistros, braços roxos e casas pegando fogo, a decisão foi total bola dentro. Tirando "Dark Light", uma faixa interminável e pretensamente mântrica lá no meio, o disco desce mais macio que um merlot nas horas de melancolia. E a voz do cara está cada vez melhor.


Lemonheads - Varshons
Ainda falando em junkies, Evan Dando volta à baila com um disco só de versões despretensiosas, o que, no caso dele, é uma boa contradição. Embora os covers sempre foram seu coelho na cartola ("Luka" e "Mrs. Robinson", lembra?), Varshons soa deveras descontraído, low profile. Mesmo com participações luxuosas de Liv Tyler e Kate Moss, a sensação passada não é de tentativa de resgatar o trono acolchoado de "Gram Parsons que deu certo" de outrora (tem cover do Parsons no disco, por sinal). Destaque para "Layin' Up With Linda", do mestre GG Allin.

Em breve deve vir uma parte 2. Antes de você sentir cheiro de peru assado...