quinta-feira, 2 de julho de 2009

Como ter classe na sarjeta

Foi esta quarta o esperado show de nome antieufemismos "An Evening With Greg Dulli & Mark Lanegan", a versão enxuta e intimista do Gutter Twins. E aqui estou eu até agora dando voltas para concatenar algumas generalidades sobre a noite de gala, mas antes fica o tira-gosto com "God's Children". Petisco não-superfaturado, porque aqui não é Bourbon Street não, fio.

Começando com a resposta malandra do Dulli para a viuvada grúngi: "We'll play everything we can, I promise. No one here is in a hurry, believe me". E o Lanegan (escondido ali no meio) puxando os primeiros versos de "All Along The Watchtower" no final, meu amigo, foi de lascar a safena.




Isso porque foi só a segunda da noite, e uma faixa de 2008. Epifanias à parte, foi uma apresentação honesta, meio curta para a expectativa dos presentes, mas jogando pela democracia. No set list, em média três canções de cada projeto da dupla - Afghan Whigs, Screaming Trees, Twilight Singers, Lanegan solo e alguns covers (José Gonzalez, Nick Drake).

Bourbon Street mais cheio do que o esperado, camaradagem na porta de entrada, iluminação baixa com direito a velas, Stella Artois long neck a seis reáu e o trio de distintos quarentões (o terceiro era o único músico de apoio) é recebido com um aguaçal de pedidos por velharias já nas três primeiras músicas. Logo ficou claro um dos poucos poréns da noite: Dulli e Lanegan demoraram anos para vir para cá, o que parece ter deixado confusa e consternada a fiel viuvada - menos histérica e numerosa que os fãs do Radiohead, é verdade, mas igualmente joselítica.

Greg Dulli, com a voz nos cascos e alternando entre o violão e o piano elétrico, começou comunicativo, mas depois falou pouco. Foi notável, ainda assim, a empolgação do sujeito de preto com o calor latino, sorrindo à toa mesmo durante músicas que ele não compôs, como "Dollar Bill". Mark Lanegan manteve a fama de lacônico nos melhores momentos e macambúzio nos piores, mal encarando a plateia ávida por "Nearly Lost You" e se concentrando na váibe do momento e nos barítonos roufenhos e cheios de viço, sua marca registrada.

Também merecedora de nota foi a volta dos dois no final, aquele momento "salve simpatia" para dar autógrafos e receber um calorzim humano. O assédio foi tamanho que dá para especular se os gêmeos da latrina carregarão menos a mão nos infortúnios e na armagura nos próximos trabalhos. Um negócio comovente. Fiquei espiando de longe, satisfeito com a melhor 1h20 da semana, proporcionada por dois dos macacos velhos mais dignos do róque americano que interessa desde 1992.

Difícil eleger a campeã da noite. Tavez "If I Were Going" ou "What Jail Is Like", as melhores do disco Gentlemen.