sábado, 10 de fevereiro de 2007

Esporeando os sentidos

Duas gotas, três libras, sete palmos, nove compassos, onze goles, vinte jardas, trinta e cinco graus celsius, quarenta e três pistas falsas, cinquenta e cinco trocas de lugar, sessenta milhas, noventa e uma ligações não atendidas, cento e vinte e cinco dias, oitocentos e nove folhas, cinco mil hectares, quarenta mil barris, um milhão de pulsações cardíacas.

Antes dos ânimos esfriarem, do tédio implacável se acomodar e de "Tente outra vez" em versão gospel sair pelas caixas de som de um camelô qualquer, me transformo em outro animal para sair uivando por aí em dialeto próprio. E o futuro, ou o melhor que ele pode trazer, dá um chá de cadeira. Essa é minha prova de paciência, e o jogo é disputado lance a lance.


[devaneios produzidos à audição do disco novo do Modest Mouse - "We Were Dead Before The Ship Even Sank"]

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Piada pronta

Há exatamente uma semana, pouco antes de sair para o trabalho, eu folheava o jornal até encontrar uma declaração que me chamou a atenção. A reportagem era sobre uma das vítimas do desmoronamento da obra do metrô Pinheiros: uma advogada de Carapicuíba, que deixou filhos de uns 10 anos. Para ilustrar, uma foto lamentável do enterro, com os filhos e o resto da família chorando (como tem fotógrafo de redação filha da puta por aí), pouco tempo depois de saberem que a mulher tinha ido dessa para uma melhor. Ao lado, um painel de declarações vinha com a célebre frase de uma vereadora conterrânea: "Quando eu vi a notícia da tragédia na TV, sabia que teria alguém de Carapicuíba no meio. Sempre sobra pra Carapicuíba", que me fez rir, desconfortável pela situação. Alguns minutos depois, dando carona pra minha amiga e nova colega de trabalho, recebi a confirmação: "É verdade! Pode ver que sempre tem gente de Carapicuíba no meio de um desastre...".
Quase em frente ao trabalho, a constatação. Ao entrar numa avenida, cometo aquela cagadinha que vinha até então me trazendo sorte: entro com o carro olhando os que estão vindo, sem lembrar de conferir o que tinha do outro lado. Um amassado de leve nas duas latarias, acho até que eu levei a pior. O "terceiro" (jargão da seguradora), meio apressado a caminho do trabalho e nada estressado, deixa nome, contato e placa do carro, XXX-0000, município de Carapicuíba. Pelo jeito, sempre sobra mesmo.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Moving forward

Começo de ano bem agitado por aqui. Não consigo lembrar da última vez em que senti de forma tão nítida uma virada de ano, sem shows pirotécnicos nem promessas de ocasião. Na falta de um trabalho, vieram dois. A bile vai sendo escoada aos poucos. Pessoas importantes vão optando por virar farelo, pessoas antigas vem reaparecendo e pessoas novas chegam em relação ainda ruidosa. Vários amigos dando guinadas, várias boas notícias espalhadas semana afora. Ainda na adaptação ao novo, o motor aqui demora para esfriar na hora de dormir apesar do cansaço com o qual eu sonhava por noites seguidas. Agora, quando o sono vem... sabe aquela cena do Clube da Luta em que o Edward Norton dorme como criança depois de freqüentar o grupo dos tumores de cérebro? Bem por aí. Para quem é devoto do que vem a seguir e nunca se sentiu lesado por ser não-cristão no país errado, nada como um começo bem pragmático e com a receptividade colocada à prova. E de vez em quando, só para quebrar a rotina, ainda me vejo perdido em alguma parte, ora pelo céu, ora na cratera. Mas, para retomar, é só sair da pista local dando seta para a esquerda.