quarta-feira, 3 de agosto de 2005

Breve cuspida de sangue

Quando o mundo gira ao contrário e em preto e branco, as cortinas se abrem para um brinde ao silêncio. Morrem o cultivo e a compaixão, que pulam como lemingues em direção ao precipício gelado para acelerar o ciclo metafísico. Uma pequena tragédia antecipa as gargalhadas embasbacadas de gralhas que sentam na primeira fileira e fumam seus últimos recursos em charutos fedorentos. Três quartos de hora depois, as sobras são recolhidas para alimentar os satisfeitos com a poeira. Os poros se entopem como filtros de café e o ruído cego das turbinas de aeronaves encobre as pausas da respiração. Mastigar as sobras se torna um sacrifício pontiagudo. As luzes das janelas do prédio em frente se intercalam: são os vizinhos alertando em código morse. Como testemunha está o cenário azul se espreguiçando, com sua gravata cinzenta indefectível penetrando o chantilly e os arranha-céus de cera. Enquanto o vilão do chapéu preto sobe de elevador com notícias e algumas guloseimas importadas, eu abraço o ar quente da queda.

4 comentários:

Daniel Boa Nova disse...

bem lokas imagens!

Anônimo disse...

Mastigars sobras, sempre é sacrificante.

Anônimo disse...

Continuo na minha tarefa de manter um blog paralelo, dentro do blog deste rapaz Etil. Como um vírus que o consumirá até se consumar, inscrevo nas dores dele parte da minha sobrevivência.
No entanto, este seu último post foi além da imaginação, como um pedaço de dor muito estilizado. Pode até parecer hermético e depressivo, mas para quem conhece o rapaz pessoalmente (acho que todos leitores) fica claro que as forças explícitas, e principalmente as escusas, de suas imagens escondem a satisfação de produzi-las atrás desta eterna auto-comiseração.

Anônimo disse...

Como assim? rs Fazia tempo que vc n escrevia textos assim, gosto bastante!