sábado, 30 de julho de 2005

Já deve ter dado para perceber, mas mesmo correndo o risco de parecer redundante, preciso confessar: tenho preconceito com blogs apesar de estar mantendo um (ok, mal e porcamente). Nada contra quem faz isso. Pelo contrário: se algum amigo que escreve resolve me mostrar, tenho curiosidade para dar uma olhada, e se tiver algo de interessante até volto outras vezes para ler textos novos. Mas não deixa de ter certa ironia a lógica do ritual, do tipo 'então cada um de nós escreve nosso próprio livro com nossas próprias memórias e contos, depois trocamos e tentamos nos conhecer um pouco mais do que convivendo'. Olhando pra mim mesmo, essa ironia fica ainda mais aguçada. Como muito gato pingado por aí, também me silencio consentindo, também sou distante. "Também sou pós-mudérno", diria a biba Caetana.
Não tenho problemas com quem publica tratados existenciais sobre a unha do pé encravada, ou quem vomita letras da Legião Urbana pela falta do que contar, ou quem pensa ser o Hunther Thompson da vez. Cada um sabe onde aperta o sapato, como diria um prezado camarada. Tudo gira na questão de como fazer, de como jogar idéias insólitas sobre o nosso pãozinho na chapa de cada dia.
O buraco, então, é mais embaixo. Como todo 'imobilista convicto' (ver post anterior), carrego um vício que não recomendo aos iniciantes: muitas vezes só por investir um bom tempo refletindo sobre determinado assunto, cria-se a sensação de ter dado cabo dele. Pronto, resolvido, next! E na realidade é uma farsa, pois o que se pede é ação. A neurose ainda vai estar ali parada na sua frente, como um segurança de boate. Blogs muitas vezes acabam reforçando essa barreira: fulano está cabreiro com o tamanho da pança, digita seu pequeno capítulo diário de auto-ajuda e sorri satisfeito, como quem acabou de eliminar a cerva da bexiga. Tá armada a arapuca. Vira simplesmente um meio de fuga.
E por mais retórico que isso possa soar, ainda gostaria de pensar que é melhor ficar vesgo olhando 2 minutos sem parar pra uma ponta de caneta, contanto que seja assinado de vez o cheque logo em seguida. Lembra do filme Ghost, quando a alma penada Patrick Swayze se concentra para dar um peteleco numa lata e tirá-la do lugar? É por aí.

5 comentários:

Anônimo disse...

Nunca havia "insonado" lendo um blog. De fato, nunca havia lido um. Acho que meu imobilismo(estou copiando suas palavras) é tratar o mundo como um acontecimento decadente, no qual as novidades são tão obscuras que me recuso a aceitar suas trevas, achando-as sempre pérfidas ou inúteis. Quem me conhece sabe que não tenho celular, tampouco blog, e mesmo no Orkut eu me disfarço. Contudo, aqui estou, insone, rendido à decadência do blog deste amigo querido. Enfim, as trevas blogueiras (eu sei que você detesta esta palavra) me consumiram! Não vou comprar um celular, e ainda tenho a sensação estranha de que o mundo decairá em hacatombes espetaculares. Mas estas luzes dissonantes, cheias de vida e desespero, continuam me mantendo acesso nas noites mais tenebrosas e solitárias.
Obrigado, amigo.

Anônimo disse...

Gosto dos seus escritos, sempre dando uma "cutucada diplomática" nessa modernidade que foi nos foi enfiada à goela abaixo. Usando palavras suas... ouso acreditar que isso aqui seja uma terapia (do novo século) por correspondência.

Anônimo disse...

mas escrever é isso mesmo, como disse Bukowski (alias hj citamos várias frases, nao?): nos salva da loucura! Uma parte é verdade, a outra é que ele nunca perdeu a barriga de cerveja, mas pra que perde-la??

Anônimo disse...

vortex, mas ainda preciso de uma maozinha pra concertar umas cagadas que fiz no meu blog nov... bjos

Anônimo disse...

Pra que perder a barriga Lili? "Um Homem sem barriga é um Homem sem história".... e nós gostamos é do gasto! né não Lú?