quinta-feira, 28 de julho de 2005

Fratura exposta engessada

Poucas coisas me irritam e angustiam tanto quanto a sensação de imobilidade. Digo isso justamente pela tendência natural com que acabo levando as coisas, pelo menos nas minhas ações externas. É como se houvesse um campo magnético que atraísse as decisões sempre para o mesmo centro: ao invés de deixá-las tomar um caminho (ou eu mesmo trilhar um), de relaxar, abdicar ou abraçar, simplesmente conviver semanas e semanas com um punhado de problemas como se fossem um enxame de abelhas ao redor de um pau-de-sebo besuntado com mel. É puxar a cadeira de praia, sentar-se não tão confortavelmente ao lado deles e assistir de camarote a maré te engolir, secar ou a úlcera se encubar.
Recentemente uma conversa me fez pensar naquilo que cumprimos por instinto no sentido herdado, coletivo. São aqueles comportamentos da espécie que desde um vassalo feudal até uma empresária da Daslu - e incluindo eu e você - temos em algum momento da vida por enfrentar e executar, não tanto por opção mas por algum tipo de necessidade. Isso também varia e toma várias formas, passa pelas funções vitais, pelo desenvolvimento, aprendizados, rupturas e por aí vai.
Dentro desse fantasma tão vago e abstrato que a gente chama de 'instinto', me chama muita atenção a disposição cíclica que a gente tem para adaptar características de certo momento da vida em um outro bem diferente. Exemplo: quando pivete, eu e quase todos da mesma idade colecionávamos figurinhas do Campeonato Brasileiro - achava sensacional elas não serem autocolantes, o álbum ficava com as páginas grudadas e com aquele cheirão de cola Pritt. Pouco mais tarde, na adolescência, gostava de pensar que estava começando uma coleção de cds, enquanto vários amigos faziam coleção de latinhas. Hoje, apesar de ainda não ter estabelecido critérios e já ter transformado meu gosto zilhões de vezes, continuando comprando cds com grana que seria para pagar a luz ou algo do tipo. O que ainda me faz achar que é uma coleção, além daquele desejo mórbido e infinito de sempre querer mais, é o fato dos cds estarem nas prateleiras da minha parede, lado a lado, organizados por ordem alfabética. Do mesmo jeito, a minha coleção de problemas a serem resolvidos está por aí também, só que martelada com pregos oxidados, alguns ítens com uma camada de poeira por cima e alguns pendurados por cima dos outros. Mas permanece aquela essência, a necessidade (?) de agrupar antes de perceber se existe um sentido por trás da criatura remendada do Dr. Frankenstein.
Bom, não pretendo fazer dessa conversa uma punheta sem fim, até porque 'blog' é onanismo por definição, é terapia por correspondência. Também não encerrei o assunto. Mas tive uma idéia infantil que me satisfaz por ora: como naquele jogo de acertar o rabo do burro, vou vendar os olhos e escolher onde o alfinete vai espetar primeiro.

3 comentários:

Anônimo disse...

oui, oui... movimento!

rmussilac disse...

Você diz que eu sou fiel? Caralho ordinário!.. os probelasm também estão em ordem alfabética?

rmussilac disse...

problemas*