quarta-feira, 15 de abril de 2009

Flanada anual

Acabei de ver a programação da Virada Cultural deste ano e mais uma vez o evento promete. Não digo isso apenas pelas pencas de atrações grátis ao ar livre em vários palcos espalhados pelo glorioso centrão paulistano, mas principalmente pela oportunidade de percorrer todo esse intrigante universo a pé durante um dia - e boa parte de madrugada, o que é mais legal ainda. Nem parece o mesmo lugar.

Em 2007, ano daquele fatídico show dos Racionais na Sé, cometi a infame proeza de ficar em casa. Pelos causos que ouvi, passei a semana seguinte hediondamente arrependido. Ano passado, quando fui pela primeira vez, esqueci por vários momentos o que aquela região encantadora e tenebrosa representa nos demais dias do ano.

Cheguei cedo com meu irmão pra pegar um show memorável do Mundo Livre em frente ao ex-estágio Pateo do Collegio. A sequência tortuosa teve a boa velharada Germano Mathias e Vai-Vai, a musa Marina de la Riva, a quebradeira do Macaco Bong, vários amigos, latinhas de cevada e conhecidos pelo caminho e o desfecho com uma bela sequência de DJs na tenda da Quintino Bocaiuva, onde rolou new wave e surf music com clima de Carnaval do interior de Minas. Passei pela tangente de uma procissão atrás do Zé Ramalho na São João. Nem cheguei perto das filas do Teatro Municipal e devo passar longe de novo em 2009. Me dei por satisfeito umas quatro da matina e o metrô me despejou de volta até a Barra Funda num horário em que ele costuma dormir. Ok, quem tiver conferido todo o cronograma dirá que perdi gente mais interessante, como a cariocada Orquestra Imperial e Do Amor, ou mesmo os gagás Jorge Ben, Mutantes e Afrika Bambaataa. I couldn't care less. Foi uma noite sensacional.

Este ano, uma das metas é conferir alguma coisa do Palco Brega, no Arouche. Destaque para uma sequência genial: Wando, Reginaldo Rossi e Beto Barbosa. Benito di Paula abre os trabalhos no sábado. No dia seguinte tem Odair José, o Roger Waters do rodízio de carnes. Tudo grátis. Diversão garantida. Ano passado perdi o Nelson Ned por lá, mas reza a lenda de que foi melancólico em excesso, uma espécie de Elvis fase Las Vegas versão paraolímpica. Por outro lado, é legal se programar para a Virada justamente pela chance pequena de você conseguir ver tudo o que pretende. Com certeza você vai encontrar alguém que conhece quando estiver cruzando a Barão de Itapetininga ou comprando Skol de isopor no Viaduto do Chá. E provavelmente a sua rota vai mudar por conta dessa(s) outra(s) pessoa(s) no caminho.

O lamuriento de plantão poderá dizer que várias atrações, refletindo o panorama da música pop brasileira atual, são caidonas. Ou que o evento estimula o que há de mais sórdido no tenso e desgostoso cidadão da capital em caráter de multidão. Talvez tudo isso seja em parte verdade (a má fé às vezes também se manifesta por aqui). Mas, acima de tudo, é uma das poucas chances atuais de o calejado morador paulisteño ainda se surpreender com a cidade. E o que é melhor: sem pagar estacionamento, sem pegar fila (salvo exceções), sem gente nervosa e sem ficar entalado na Marginal com 257 Peugeots à sua frente. É daqui a duas semanas.

3 comentários:

maopequena disse...

Amei a declaração de amor - disfarçada ou não - pela nossa querida cidade. Só não gostei das datas...

Beijos

Daniel Boa Nova disse...

Se tu vai em evento de graça no centrão, toma todas e opta pelo palco brega, não vai poder se arrepender de depois acordar abraçado com a garota da pinguancha.

garotadapinguancha.com.br

Wagner Miranda disse...

Vai ver Novos Baianos. Será que os peitos da Baby ainda tão inteirões?