segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Mais um dia ideal para os peixes-banana

Existe uma diferença brutal entre caminhar no parque de manhã e pela tarde. Especialmente no calor sujo, a manhã é infestada por aspirantes a maratonistas, crianças histéricas, babás prósperas, casais assépticos sem filhos, sexagenários perseverantes que trotam lembrando de dias melhores e arrastando um dos pés no compasso de seus corações safenados. "Ele corre mais devagar do que eu caminhando, mas deve fazer isso há anos. No mínimo, esse senhor se conhece um bocado".
Após as três horas, apesar de recolhida a folhagem, tudo ganha dimensões mais sombrias. O vento úmido dá socos no peito, me aconselhando a voltar para casa. A fauna se expande a começar pelas carpas pretas semi-apodrecidas, que acenam boas vindas com línguas-de-sogra de dentro do tanque oleoso. Maltrapilhos descalços ajoelhados nos bancos, desempregados lendo a Bíblia e casais inusitados, como um formado por um nordestino atarracado ostentando um respeitável bigode e por uma oriental calva de meia-idade, me observam como se eu quebrasse a harmonia daquele saudável mas não menos triste hospício sem acompanhamento psiquiátrico. Uma loira avermelhada acima do peso alonga suas pernas, levantando seu traseiro desproporcional. Sorri quando me cruza pela segunda e pela terceira vez, com seu maxilar anguloso e ascendência holandesa combinando de forma duvidosa com o aroma convidativo de merda dos cavalos que saltam sobre barras enferrujadas, e desaparece logo em seguida. No fim, sou coroado com uma rinha espontânea de sumô entre galos idênticos, de penas brancas e cristas vermelhas. Os dois se encaram curvados e se atracam ao terceiro sinal da campainha, sendo separados por uma sábia galinha esguia. Como testemunhas, eu e um sósia do Roberto Carlos.
Saio daquele inferno verde e úmido com o estranho desejo de que poderiam pôr em vigor algum tipo de lei que permitisse fechar a cadeado todas aquelas criaturas ali dentro. Mas a dor no joelho que desapareceu me faz mudar de idéia, assim como o suor em minha camiseta, que toma a forma de um rosto sorrindo acanhado.

5 comentários:

Anônimo disse...

Cara, eu nào tenho palavras para comentar esse escrito. Puta que Pariu. Mas pra uma piada leve:até eu corro mais devagar do que vc caminha.

Etil disse...

Quem és tu?

Anônimo disse...

Todas as alegrias inventadas pelo mundo, como os parques, a sorveteria, as baladas,a cerveja, são tristes e depressivas. No entanto, é ainda mais catástrofico quem carrega nos pés ou nos olhos a lama para onde quer que vá. Descobre, em pouco tempo, que não há lugar que tenha valia, e os defeitos do mundo acentuam uma insegurança para a qual ficar em casa é sempre a melhor solução. Prefiro esquecer a crítica e me apegar somente à estranheza, ou à felicidade incondicional dos lugares e das pessoas. Talvez assim eu não enlouqueça.
Ademais, Roberto Carlos pode ser maravilhoso, tanto quanto os maiores baladeiros universais. Mesmo que seja somente um sósia.

Daniel Boa Nova disse...

é como pegar busão todo dia à mesma hora: a sandra de sá tá sempre lá....

Anônimo disse...

Desculpe lu, esqueci de assinar, sou eu a binhá!