segunda-feira, 15 de junho de 2009

Voltando à programação normal

Já que o post anterior rendeu as mais intrigantes interpretações, melhor desanuviar escrevendo mais um pouco sobre música, hehe.

O Guided By Voices é uma das minhas mais recentes melhores bandas de todos os tempos e pode até ser batida para muitos, mas admito que comecei a gostar de verdade tardiamente. Tinha preconceito com os discos porcamente gravados até a metade dos anos 90, cheios daquele orgulho meio estéril de ser lo-fi e cada um com umas 25 pequenas pérolas da melodia soterradas numa gravação de fundo de quintal. Não conseguia ver o diamante por baixo da fuligem. Muita gente - a maioria proveniente ou com o pé no indie - via o vocalista e dono da banda, Robert Pollard, como um herói. Pra mim era difícil de entender, visto que se trata de um sujeito mais maduro (deve ter mais de 50 hoje) e com a fisionomia de um corretor de imóveis. Também não sacava por que a Trama despejava boa parte da discografia deles por aqui. Mas há uns 5 anos resolvi pegar aleatoriamente um desses discos para ouvir e tive a sorte de escolher justo o ótimo Universal Truths And Cycles (2002), da fase mais, digamos, "adulta" do GBV. Uma canção mais perfeita que a outra, do tipo que acaba no momento certo, sem gorduras, como os bons discos dos anos 60.

Comecei a reparar que o charme dessa banda de Ohio (EUA) é justamente essa beleza desconjuntada e falta total de glamour. Imagine as harmonias vocais e a pegada do Who executadas com algum desleixo, por gente que prefere gastar o tempo livre lendo ou bebendo, e não ensaiando. É róque para tiozinho com sangue quente e sem medo de ser feliz (desculpe o clichê). Aquele que cai de para-quedas numa festa só com gente abaixo de 20 anos e enche a cara sem a menor cerimônia, ou o que fica nervoso ao ligar para a dona que lhe passou o número num flerte no supermercado.

Para vencer rápido o preconceito pelo qual passei, a dica é começar pelos discos com gravação decente, a partir do Mag Earwhig! (1998), quando Mr. Pollard dispensou toda a banda antiga e recrutou o pessoal da garageira Cobra Verde. O seguinte, Do The Collapse (1999), abre com a ótima "Teenage FBI" e é um dos mais bem produzidos, a cargo do leprechaun Ric Ocasek (ex-Cars - lembra da melosa "Drive"?). Mas o campeão aqui em casa, pelo menos por enquanto, é o Isolation Drills (2001). Difícil não simpatizar pelo quarentão cantando "Glad Girls". A letra e a melodia são tão simples que conseguem ser ridículas e geniais ao mesmo tempo. Não estranharia se soubesse da aprovação do velho Macca.

No vídeo abaixo eles ainda por cima tocam na Amoeba Records, provavelmente a melhor loja de discos do mundo (loja de discos? Que negócio anacrônico). Repara no furor do chute no ar desengonçado que ele dá logo no início. =)



Não aguentei e postei mais um:

Um comentário:

Wagner Miranda disse...

O que dizer sobre esses caras? Também sou um dos convertidos, com muito orgulho. :)
É um belo exemplo de que a concepção é muito mais importante do que a execução. É tipo a gordurinha da picanha, saca? =P
GBV também foi trilha sonora de nossas agonias tradutórias naquele muquifo que pagava nosso salário atrasado quase todo mês...rs. Viver é muito perigoso, meu chapa.

F-O-I=FUI