Ao sair de casa, no começo deste ano, um dos meus projetos (que ainda está em andamento) era aprender a cozinhar. Não digo que já virei um Olivier Anquier ou uma Dona Genoveva (como chamava mesmo aquela famosa velhota pioneira que ensinava receitas na Rede Record?), aliás estou léguas atrás de qualquer piloto de fogão mediano. Mas nesses poucos meses em que comecei a me atrever a ir além do miojão, descobri o pequeno prazer de sentir o cheiro do tempero refogando e o sabor da cerveja gelada deslizando goela abaixo. Claro, o tempo livre tá ajudando. Quando a agenda aperta, nem que seja uma vez por semana ou menos tá valendo. E não depende da presença de convidados de gala ou de folgados de plantão ou de quem você pretende desposar. Vai treinando antes do fatal golpe da águia.
Se eu tivesse um desses programas de TV durante a tarde, daria a seguinte receita:
Coloque as caixas de som na direção da cozinha e separe alguns cds. Comigo já deu certo gente bem diferente, como Afghan Whigs, Social Distortion e Paulinho da Viola. Hendrix e Stones também são uma boa. Imprescindível mesmo é a música estar ALTA. Abra bem a janela ou use o exaustor, ou de preferência os dois. Pegue a peça de carne ou frango e deixe descongelando, troque a água de tempos em tempos, e confira se a peça está desempedrando. Se você foi esperto o bastante para ter tirado do congelador de véspera, párabéns! Você está fora do clube dos finos apreciadores da culinária semi-rasteira. Só então abra a primeira da latinha de [preencha com a sua marca preferida]. Escolha o apoiador de copos mais estiloso. A diversão tá só começando. Como você é sagaz o suficiente, já sabe fazer um arroz, lavar umas folhas e refogar o que vier pela frente. Vamos pular essa parte, ou caso você seja um diletante como eu, peça ajuda ao Louro José. Enquanto algumas coisas não ficam prontas, aproveite para lavar louça e desobstruir o meio de campo. Perceba como essa tarefa se torna menos chata ao se atingir o nível ébrio iniciante. A essa altura do campeonato, você já deve ter esvaziado algumas unidades de alumínio (ainda mais se estiver calor) e vai estar dançandinho acompanhando a música. Estando só ou acompanhado, vai se sentir mais sexy e vai lembrar das letras. Não desista ainda. Invente novos passinhos bizarros. Aquele que estiver junto não vai te intimidar, é de confiança - caso contrário, não arriscaria o estômago com as suas vocações circenses. Continue bebendo, mas nunca entorne de vez. A sua autocrítica e o seu paladar devem estar de pé no final do jogo. Caso contrário, vai achar que cominho é um tempero dos deuses e até detergente pode entrar no pagode. Falando nisso, alguns acessórios merecem estar sempre à mão: vinho branco, noz moscada, pimenta calabresa ou do reino, orégano, azeite, parmesão ralado, manteiga, alho e uma bela duma luva de forno. Mais sugestões eu leio no próximo programa. Abra mais uma latinha, dê uma mijadinha e comece pela salada enquanto o principal dá aquela última dourada. Na hora da verdade, melhor abaixar um pouco o som e trocar a cevada por um suco, pra não influir no gosto e principalmente pra não comprometer os elogios que você vai ouvir. Ignore os superlativos que a sua comida receber, e diga que tava faltando mais 'alguma coisa que eu não sei bem o que é'... e lembre-se: as sobras são mais agradáveis de se comer do que aquelas outras!
Diz aí, melhor que assistir Sonia Abrahão ou TV Fama.
quinta-feira, 11 de agosto de 2005
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6 comentários:
uh frangu, uh frangu na beira da lagoa, não tem, não tem, rabinho nem orelha, uahh, uahh... uh franguuu!
Ótimo! O programa é seu. Só faltou olhar para a câmera da verdade e dizer: "How you doing?"
Ofélia era o nome da véia...
..hahahah...cara, seu novo nome ... dá pra você fazer isso no tantra!!! hahahahah...Ofélia
Podexá, vou coar o leite ou pedi p paulinha fazer.
Claro que lavo. Quem tem sintomas de TOC nunca esquece disso. Mas cada um adapta a receita com os condimentos que estiver à mão (literalmente nesse caso!).
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