sexta-feira, 9 de julho de 2010

Barba azul

Blue Beard by bandofhorses

I used to see the night so anxious, but now I know
The only thing it ever taught me was a grand illusion
That comes and goes, the city blanketed of snow.

What if we die, no end and no conclusion.
How could you smile, just walk away.
Well I don't know.
I don't know.

I met you at the railroad station, now years ago.
And something happened on the night I last drank with you in the neon glow.
Now I don't see you anymore.

The Midwestern sky is gray and cold.
The sun never shines, but that's alright.
And I couldn't find the letters that you wrote me.
What did you write? Where'd you go, well I don't know. No.

Take a little time gonna roll the dice
Taken for a ride, any normal life will do, too.
Find another way, try to break the ice
Every day and night, the banana peels were true. True.

domingo, 4 de julho de 2010

Primavera Sound, terceiro dia

Também conhecida como a noite Palco ATP, pelas escolhas que fiz.

Cheguei mais cedo para a última rodada, por volta das 17h30, a tempo de apostar algumas fichas no Psychic Paramount sob um sol punidor no ATP Stage. Não conhecia o trio nova-iorquino, e o imprevisto foi grato: paredes de guitarra e crostas espessas instrumentais ora endurecidas, ora fluidas e abstratas. Bom cartão de visitas. O público, ainda meio escasso, em certo momento teve chance de contemplar uma linha imaginária que partia do desvario organizado do palco e dividia o sol forte do lado direito do céu e as nuvens plúmbicas (gostei dessa palavra!) vindas do mar, à esquerda. Sorte que estas passaram rápido.

Nem precisei sair do palco ATP para presenciar uma das incógnitas do dia: Michael Rother & Friends Presents Neu! Music. Rother, sobrevivente guitarrista e operário do Neu! e do krautrock, poderia ter virado tanto um senhor sequelado e infantiloide quanto um sóbrio sexagenário germânico. Valeu a alternativa B. Todo de preto, cabelo escovinha marcial impecável, ele comandou por uma hora um princípio de transe coletivo forjado licitamente. Pouco informado até então, eu percebi só ali que um dos "friends" presentes era o cabuloso Steve Shelley, do Sonic Youth (cujas experimentações obviamente pagam muito tributo ao Neu!). Foi bem engraçado acompanhá-lo sorridente, visivelmente se divertindo ao tentar sustentar os 15 minutos da retidão metafísica que evoca cada "canção" de Rother e seu ex-parceiro Klaus Dinger. Shelley perdeu o tempo em vários momentos e tentou encaixar suas famosas viradas, o que deu mais graça e curvas à precisão retilínea do planador alemão.



Foi também no ATP que conferi o Sian Alice Group, pop sombrio com fragmentos experimentais à la Bat For Lashes, e descansei sorvendo mais uma San Miguel com a moçadinha jovial. Mais algumas dezenas de minutos, sendo alguns deles presenciando a vergonha alheia causada por um trecho do show das Slits no Pitchfork Stage, e estou de volta ao ATP para ver o Polvo, grandes subestimados do róque índico americano dos anos 90. É mais uma banda que parou no final daquela década e voltou após 10 anos, mas, ao contrário da maioria, sem a menor badalação e com um disco parrudo, In Prism. Os quatro cidadãos da Carolina do Norte podem até ter zero carisma, mas compensam com longas e intensas digressões instrumentais que prestam contas à dissonância desoladora do Slint e ao peso matemático do Helmet. As duas vozes, escassas e até meio dispensáveis, ficam em segundo plano perto das guitarras emaranhadas e do baterista ignorante. Já era noite, e as luzes escuras do palco casaram com precisão. Os presentes, em reverência, ensaiavam até um headbanging. Climático e memorável. A única falha foi ter sido curto demais.



No mesmo ATP rolou mais uma banda aguardada, o Built To Spill. Imagine uma orquestra com baixo, bateria e três guitarristas que rezam toda noite para o véio Neil Young entoando uma longa marcha nupcial, ou, melhor ainda, o acompanhamento para o nado sincronizado de quadrigêmeas, em um púlpito celeste e com lúpulo a vapor sendo borrifado. O Built To Spill estaria bem perto dessa maravilha. O problema é que o líder Doug Martsch, mesmo não sabendo quem é Tim Maia, pensa que é o próprio. A cada intervalo era um tal de "check mic one, check mic two, kick the bass, kick the guitar one..." para testar a paciência. Quando engrenava, porém, era uma beleza ver cada faixa sendo esticada ao máximo. Conclusão: alguns regalos guitarrísticos, mas, no todo, não chegou a levantar voo.

Saí correndo no meio da última música do BTS e uma de minhas favoritas, "Carry The Zero", para abrir caminho e chegar a uma posição decente no palco Ray Ban, onde o ressuscitado Sunny Day Real Estate tocaria a seguir. Era mais uma banda que eu não imaginava um dia conseguir ver e, certamente, entre as mais aguardadas. A sequência inicial, com "Friday", "In Circles" e "Seven", foi uma demonstração categórica de como fazer 1997 voltar do nada ao presente. Impressionante ver como Jeremy Enigk (o cristão bebedor de cerveja), Dan Hoerner (o boa-praça mor), o foo-fighter Nate Mendel (o músico mais foda, rei das escalas 'miojadas' no baixo) e William Goldsmith (o braço pesado) aparentemente não envelheceram nos últimos 10, 12 anos. A banda estava redondaça, pesada e generosa, priorizando seus dois primeiros e melhores discos. Pensei que eu era um dos poucos, mas o que não faltava era marmanjo emocionado, entre amigos e desconhecidos. A banda estava nitidamente empolgada e o próprio Dan Hoerner não parava de rir à toa, dizendo mais de uma vez mal poder acreditar no que via: alguns milhares de vozes cantando absolutamente tudo o que viesse, passando ao SDRE o recibo de relevância (mesmo que dentro daquele batido status 'cult').



Pensei que seria tarefa dura me entreter com o que viesse a seguir, mas lembrei que, no caso, o responsável por isso seria
Mr. Lee 'Scratch' Perry no Pitchfork Stage. Fato é que o ancião jamaicano precisa fazer pouco para ganhar quem está ali. Espécie de versão anti-heroi de James Brown - o cara que mais rala no showbiz -, Perry chega manso após uns 10 minutos de banda tocando, pendura seus (literalmente) trapos e balaios no pedestal do microfone e começa suas louvações a jah debaixo de uma sugestiva luz verde enfumaçada. Ok, ele foi o produtor que praticamente inventou o dub e ali desempenhava uns reggaes bem feijão-com-arroz, mas o carisma quase picareta do velho-noia e a competência da banda embolsaram fácil o público naquele meio de madrugada. Fica difícil exigir mais que isso de um septagenário entusiasta de pedras e cachimbos estranhos, e todos os presentes viram terceiro-mundistas sorridentes que dançam na areia sob a bênção de rastafaráái. Isso até que a próxima atração desvie novamente a atenção dos mal acostumados de plantão, é claro.

Ainda deu tempo de esticar mais um pouco até o Vice Stage - definitivamente o ambiente mais fétido do evento - e ver os californianos do Health promoverem uma implosão da música pop redondinha e palatável. Enquanto o cantante balbuciava no microfone qualquer coisa que parecesse letra a timbres suaves e fantasmagóricos, os outros três se revezavam entre programações, pedais de efeitos, instrumentos percussivos e dancinhas maníacas, quase sem interrupções. Muita textura abstrata e energia, suficientes para animar os semidefuntos daquele horário, mais de 3h30 da matina. Um desfecho de festival, digamos, mais apocalíptico do que integrado.



Tentativa de ranking para os três dias:
1. Wilco
2. Sunny Day Real Estate
3. Broken Social Scene
4. Pavement
5. Monotonix
6. Low
7. Shellac
8. Superchunk
9. Michael Rother & Friends
10. Polvo
11. Lee Perry
12. Built To Spill
13. The Fall
14. Psychic Paramount
15. Health
16. Spoon
17. Pixies
18. Sian Alice Group
19. Yeasayer

Para fechar a tampa, a lista de shows que lamentei ter perdido (por gostar da banda, por relatos de amigos que viram ou por serem potencialmente divertidas): Wire, Liquid Liquid, Tortoise, Mission of Burma, Les Savy Fav, Titus Andronicus, Best Coast, Ui, Charlatans, The Almighty Defenders, Gary Numan, Japandroids, Cold Cave, Fuck Buttons, Scout Niblett, Macaco Bong e El Mató a Un Policía Motorizado. Ah, e fora dessa lista teve também Pet Shop Boys, Orbital, Florence & The Machine, Grizzly Bear, Autoramas...

2011? A ver. :)

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Primavera Sound, segundo dia

Sexta-feira, tarde seguinte. Vigésimo oitavo dia de maio, também conhecido como um mês atrás. Baterias recarregadas, mudança de bairro barcelonense - do intenso centro à aconchegante Gràcia - e, com pulseirinhas indie anexadas ao pulso, cruzamos de novo subterraneamente a cidade rumo ao Parc del Fòrum.

A expectativa era abrir o fim de tarde com o show do Low no auditório Rockdelux, mas a fila era desanimadora. Eu estava quase me contentando com o power pop redondinho e correto do New Pornographers, que tocava no San Miguel Stage, quando chega a mensagem: "corre aqui que vai rolar o Low, estamos quase entrando". Talvez o meu momento mais Gerson da viagem. A disputa por cadeiras no auditório tinha motivo justo: o trio de Duluth, Minnesota (mesma cidade do Dylan, no extremo norte americano), tocaria na íntegra o belíssimo álbum The Great Destroyer, de 2005, cujo tema central é morte e envelhecimento. Líder e sósia de Heath Ledger, Alan Sparhawk foi arrebatador tocando guitarra e cantando (fazendo harmonias com a baterista Mimi Parker) no auditório a luzes baixas, mas não trocou uma palavra com o público entre as treze faixas do disco. No momento pareceu pouco simpático, mas os agradecimentos efusivos dele próprio no final nos fizeram concluir que a intenção do silêncio era valorizar a tensão intimista e as letras. Assim como após o show do Monotonix, no dia anterior, fiquei com a sensação de que dificilmente os shows seguintes da noite o superariam, mas por razões opostas: os americanos tangenciam um caos sutil, cheio de silêncios intermitentes e melodias entrecortadas; já a celeuma dos israelenses é empapada de suor e celebração. O bom é não precisar chegar a conclusão nenhuma sobre isso.



Apesar de nublar e passar das 20h30, ainda estava claro quando saí na direção do San Miguel Stage, onde tocava o Spoon. Já os tinha visto no Planeta Terra 2008, aqui em SP, e a performance em terras catalãs foi parecida. Com palco maior e de dia, mas despertando aquela mesma simpatia que só uma banda texana esforçada, com boas faixas, suficientemente comunicativa e com aura de coadjuvante consegue despertar. Bom para apreciar degustando aquela cerveja do dia a dia, com gosto ok, que não dá ressaca mas também não desperta paixões. Foi o que fiz.

Tempo vai, tempo vem e, após uma tentativa frustrada de ver o começo do Beach House num palco menor, me encaminho de volta ao San Miguel para conseguir um lugar privilegiado para meu primeiro show do Wilco. Abrem com "Wilco (The Song)", e lá pelas tantas as duas guitarras somem. Seguem com a monumental "I Am Trying To Break Your Heart", e dessa vez é o baixo e um dos teclados que falham, obrigando os respectivos donos das funções a improvisar umas maracas enquanto os técnicos arrumam o som. É aí que Jeff Tweedy manda a real:



Nada como ter na manga uma das músicas mais bonitas da década para salvar o anticlímax do começo. Ótima sacada! Com o P.A. arrumado, chega a ser covardia. A entrega dos seis no palco me fez rir sozinho três dias depois, dentro do avião, quando eu já abandonava a Espanha dando sequência à viagem e lembrava do prazer de experimentar ao vivo "Shot In The Arm", "Heavy Metal Drummer", "Misunderstood", "Bull Black Nova" e "I'm The Man Who Loves You", entre muitas outras. São faixas que crescem para todos os lados com pequenas entortadas de direção, com o Tweedy dando mais veemência ao cantar, com a simples presença de Nels Cline e Glenn Kotche, dois músicos filhasdaputa de tão geniais. E o que foi o público 'cantando' a longa parte instrumental de "Impossible Germany", como se saudasse a chegada do sol? Ao vivo, o Wilco é tecnicamente tão competente e desenvolto quanto o Radiohead, mas leva vantagem no calor e na empatia, na honestidade e nas imperfeições, que eles conseguem contornar com classe e humor. Um mês após o acontecido, ainda cravo como o melhor show dos três dias.

Saio dali tão desnorteado que mal percebo os vibratos fêmeos de Marc Almond, comandando um rala-coxa em outro palco ali perto. A sequência seria a correção de um lapso histórico: ver finalmente o Shellac após tê-los perdido em São Paulo, em 2008. Era a primeira banda que eu via no ATP Stage, um dos espaços mais legais do Primavera ao lado do Ray Ban Stage. Agora, não faz o menor sentido comentar algo assim se você não vai assistir a algo tão amargo e bilioso quanto Steve Albini, Bob Weston e Todd Trainer juntos em ação: um baixo demente repetindo três notas por 10 minutos como se fosse uma indústria de autopeças; um macaco superdotado surrando a bateria com precisão matemática; uma guitarra abrasiva amarrada na cintura do dono e que soa como um tubo de PVC derretendo numa frigideira; e "Fucking kill him, kill him already, kill him. Fucking kill him. I don't care if it hurts". Em poucos minutos você começa a achar sublime e divina a total falta de crença no ser humano, na simplicidade, no iogurte com granola, na yoga, em Chico Xavier e na vida rural. Shellac é coisinha linda de meu deus. E os organizadores do Primavera, que não são bestas, chamam eles quase sempre. Em determinado momento, Steve Albini pergunta: "Quem aqui viu a gente no ano passado? E em 2008? E há quatro anos??".



E a grande decepção do festival foi mesmo o Pixies. Mesmo devidamente prevenido sobre a atual decrepitude da banda ao vivo, insisti em conferir os cilíndricos Frank Black e Kim Deal desempenhando no piloto automático um set list teoricamente quase perfeito. É nítido o clima azedo entre os quatro e o som imaginário da caixa registradora. Depois de um vasto repertório com caras de cu do Frank Black, conexão zero com o público (que, cheio de boa vontade, tentava se empolgar) e execuções sumárias e sonolentas de "Dig For Fire", "Debaser" e "Velouria", bati em retirada na hora do bis atrás de cafeína. Como disse antes, essas turnês de retorno de bandas dos anos 80 e 90 são picaretagens de dois gumes. No caso do Pixies, o que dizer de uns sujeitos de meia idade que não gravam mais juntos e que, ano após ano desde 2004, se reúnem para tocar versões pau-mole das mesmas músicas? Muita, mas muita boa sorte para quem for vê-los no "nosso" Woodstock de Itu.

Eram mais de 3h00 da manhã e as pernas pediam arrego quando o Yeasayer começou a tocar no Vice Stage. Exemplares da recente leva de bandas indie com gambiarras de world music que tem como maior nome o Vampire Weekend, os nova-iorquinos agradaram muitos descolados presentes, mas me tornaram tão receptivo à suposta "diversidade etno-cultural" quanto o Clint Eastwood em Gran Torino. O horário e o aroma do ambiente, àquela altura lembrando as ladeiras olindenses pós-Carnaval, pediam um show mais consistente e menos afetado. Era hora de tomar o longo caminho de volta até a aprazível Gràcia.


Hipster e pluricultural? Me engana que eu gosto...

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Primavera Sound, primeiro dia

Há duas semanas cheguei de uma das melhores viagens da minha vida e vem uma ponta de vergonha por não conseguir respiros para reativar a casa das máquinas aqui e rabiscar algumas linhas. O primeiro recorte já era certo e óbvio desde que sentei por algumas horas em Barajas, Madrid, esperando a última perna dos voos: um dos principais festivais europeus de primavera-verão. Se escrever apenas isso não parece muito, digo que o festival é um acontecimento. Época do ano (final de maio) em que gente de toda a parte começa a descer em direção ao Mediterrâneo, clima em Barcelona já o melhor possível - em todos os sentidos. Mas chegando numa quinta-feira, primeiro dia, ao Parc del Fòrum, instalado estrategicamente na ponta da orla da praia da linda cidade, vejo que o buraco é bem mais embaixo.

E já começa com uma das apresentações mais intensas dos três dias: Monotonix, três israelenses cabeludaços causando confusão no Vice Stage, palco bem perto do mar. O som, um proto-punk-stoner-garageiro, ficava quase em segundo plano. Devem existir umas 236 bandas que soam parecido, mas poucas impelem tanta interação com o público. O kit ultrabásico é montado no chão mesmo, entre as pessoas, e o negócio é tentar chegar perto do epicentro. Mal começa e já é um tal de camisa voando, levadas de bateria quebradas e muita, muita gente dançando e dando risada das macaquices do vocalista, um quarentão que traja só bermuda Adidas e parece um híbrido de GG Allin com Jesus Cristo. Umas cinco "músicas" depois, reparo que o joelho do sujeito está esfolado, com filetes de sangue correndo. Os mais voluntariosos o levantam o tempo todo, usando às vezes o surdo da bateria como base. Mais alguns minutos e o baterista também é carregado pelo alto, sem parar de tocar, com banquinho e tudo (!). Lá pelas tantas, já estão todos cantando em iídiche a pedido do carismático tio barbudo. Impossível não se divertir.
Para dar uma ideia:



Na sequência, corro até o palco San Miguel (o principal do festival) para conferir o velho finório Mark E. Smith e seus atuais estagiários, a.k.a. The Fall. A expectativa é baixa: gosto muito, mas a banda não tem fama de mandar bem ao vivo; aliás, você mal sabe quem toca no Fall sem ser o velho mutley Smith, cinquentão com cara e voz de septagenário. A graça é exatamente aguardar o que reserva o humor inóspito do velho uva-passa no dia, o que eventualmente pode entortar o pós-punk reto tocado. Já ouvi relatos hilários de desfechos dos shows deles, mas desta vez ele simplesmente fecha mais a cara, para de cantar, põe no talo todos os amplificadores enquanto os outros ainda desempenham e abandona o palco. Conclusão: talvez o melhor show ruim do festival.



Pausa para cervejas, banheiro, circuladas, camaradagens, crepes, entressafra de bandas boas. Sem contar o hypado e disputadíssimo The XX, que, à distância, fez a trilha sonora insossa desse meio-tempo. Sem perceber, era hora do meu terceiro show do Superchunk na vida (sendo o anterior há exatamente 10 anos), também no palco San Miguel. O voz-fina Mac e seus amigos, mesmo tendo voltado de uma parada longa, continuam com gás. É hit indie atrás de hit indie, todos tocados com empolgação pela banda e recebidos com deleite pelo público. E tome "Driveway To Driveway", "Like A Fool", "First Part", "Slack Motherfucker", "Hyper Enough" e "Precision Auto" (esta com participação do vocalista-bolota do Les Savy Fav), para a felicidade de saudosistas como eu. Se pudesse, veria todo ano.

Após intervalo curto, é hora de rumar até o Ray Ban Stage, um dos palcos mais confortáveis, com som perfeito e bons campos de visão. A bola da vez acaba sendo o fino do dia: a apresentação do coletivo/cabide-de-emprego canadense Broken Social Scene é ao mesmo tempo etérea e energética, com muita gente no palco aparecendo, sumindo e retornando, se revezando nos instrumentos e nos vocais. O clima é de comunhão. Uma hora, contei 12 pessoas. É difícil não simpatizar com o quase-hippie gente boa Kevin Drew, que finge coordenar a bagunça. Faixas dos dois maravilhosos álbuns mais recentes (sendo o último deste ano, Forgiveness Rock Record) escorrem feito água gelada das Niagara Falls, cheias de guitarras zunindo, pequenos improvisos (no fundo, os caras tocam pra cacete), saludos ao público e melodias bonitas, redondaças. A ausência da Feist, que às vezes participa da banda, nem foi sentida.



Para fechar o dia - pelo menos o meu, já que a festa nunca termina -, a aguardada volta do Pavement. Palco San Miguel insuportavelmente lotado, mas vamo que vamo. Stephen Malkmus, que é temperamental mas não veio a passeio, já manda de cara "Cut Your Hair", ganhando o indie, o druggy, o desavisado, o vendedor de cerveza. A comoção ainda é moderada, embora seja bonito ver tudo aquilo que se espera dos cinco slackers: as ironias, o set list perfeito, Malkmus tocando quase sempre com a correia fora do ombro, o pseudo-baterista e animador de auditório Bob Nastanovitch berrando feito um alucinado. Mesmo que a volta seja caça-níquel, há formas e formas de se fazer isso, e o Pavement está ali nitidamente se divertindo com o momento (voltarei a isso no próximo post). É a redenção daquela displicência deliciosamente calculada, típica da banda. Tudo perfeito, mas quando chega minha favorita, "In The Mouth A Desert", percebo que a viagem está paga assim que entram os primeiros uivos que servem de refrão.



A segunda e a terceira parte chegam logo, logo - antes da próxima boa gig na sua cidade.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sobre o que importa e faz sentido

No presente momento, é basicamente isto:

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Tempos (ainda) não bicudos

Então tudo recomeça pela milionésima vez, mas felizmente ainda devagar nessa época quase morta-viva do ano e da década. Aprecio essa parcimônia de enrolar na cama uns 15 minutos antes de ir de vez para a rua.

Como as novidades ainda são poucas e a previsão é de semanas intensas de labor a partir da próxima, vou direto ao que interessa: tem podcast novo no ar, depois de quase quatro meses parado (também dá para acessá-lo pela barra aqui à direta). Os dias brandos ajudaram, embora eu não saiba qual vai ser a periodicidade, nem se haverá uma. Também não consegui transformar o formato em algo diferente, como era o meu plano. Mas ele cumpre o protocolo com mais uns 40 e tantos minutos de música e as tiradinhas sem graça de sempre. Se ajudar a esquecer um pouco a prostração de quem ainda está a 10 km/h para retomar o fardo do ofício, já valeu ter feito mais esta edição.

Depois de um 2009 raspando o que tinha na lixeira e mandando para reciclagem, quero buscar aquele 2010 joinha pra nós. E reitero: se alguém tiver ideias para a estagnada rearrumação do cafofo, e que de preferência também participe de sua feitura, favor se encaminhar ao guichê 1116.