Recesso oficialmente iniciado, agora é hora de não justificar mais a preguiça e colocar na roda mais alguns petiscos que também valem a pena serem conferidos. Mais uma vez, sem ordem de importância.
Air - Love 2
Provavelmente o melhor disco deles (dos que ouvi). Quase um Floyd desempoeirado e repaginado.
Arctic Monkeys - Humbug
Enfim lançaram algo não constrangedor. Com Josh Homme dando pitacos, boas ideias vieram.
Bill Callahan - Sometimes I Wish We Were An Eagle
Tão bucólico que dá pra sentir cheiro de capim ouvindo esse disco.
Black Drawing Chalks - Life Is A Big Holiday For Us
Como assimilar Rated R em Goiânia sem soar tabajara. Difícil, mas possível.
Bob Dylan - Together Through Life
Um pouco abaixo do Modern Times, mas com os mesmos honky-tonks safados e/ou nostálgicos.
Brakes - Touchdown
Rock pixieano desleixadão. Melhor do que qualquer coisa que um ex-Pixies faça atualmente.
Built To Spill - There Is No Enemy
Passei a gostar da banda só agora. O caminho do meio entre o punk, o folk-rock e o psicodélico.
Conor Oberst & The Mistic Valley Band - Outer South
Segundo rolê do carinha do Bright Eyes por solos mexicanos. Acho melhor do que BE.
Depeche Mode - Sounds Of The Universe
Dá pra pescar boas pérolas nesse disco nota 6,5 do Depeche.
The Drones - Havilah
O Crazy Horse com sotaque australiano, mais caótico e entupido de guitarras.
Franz Ferdinand - Tonight: Franz Ferdinand
Com algumas experimentações ainda tímidas, deixando a expectativa de pirações maiores pra próxima.
Leonard Cohen - Live In London
Não sou fã de discos ao vivo, mas este do velho budista é literalmente de chorar.
Mars Volta - Octahedron
Menos intrincado que os anteriores. "Teflon" talvez seja a coisa mais Led Zeppelin que fizeram.
Mission of Burma - The Sound The Speed The Light
Mais uma carraspana dos cinquentões, que voltaram em 2004 após 20 anos parados. Mais agressivo e criativo que 90% dos "pós-pós" anos 2000.
Neil Young - Fork In The Road
Talvez o segundo melhor do véio na década, perdendo pro Prairie Wind. Mas rola um cansaço.
Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix
Ano da França no Brasil com mais um francês na lista. Pop eletrônico ultrapegajoso.
PJ Harvey & John Parish - A Woman A Man Walked By
Segundo encontro dos dois, sempre estranhão. PJ dificilmente erra, e Parish é um puta músico.
Wilco - Wilco (The Album)
Abaixo dos três anteriores - compreensível, pois os três são quase perfeitos -, talvez seja o disco mais pai-de-família deles. Calmaria do bem.
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
domingo, 20 de dezembro de 2009
E aqui vai a segunda parte...
Danger Mouse & Sparklehorse - Dark Night Of The Soul
Este eu só ouvi aos 45 do segundo tempo. Produtor dos mais requisitados da praça, Danger Mouse passou boa parte de 2009 na maciota. Mas conseguiu fazer bonito colaborando pela segunda vez com Mark Linkous, sujeito que também responde pelo valium com champanhe em forma de música chamado Sparklehorse. O projeto, que também envolve um livro de fotos do David Lynch e passou por imbróglios judiciais com gravadoras antes de sair, junta vários chegados gente-fina como Wayne Coyne, Nina Persson, Iggy Pop, Black Francis, Jason Lytle e Vic Chesnutt (o mais bizarro). Tem também o Julian Casablancas, que não compromete. Todos emprestam voz às canções etéreas de Linkous, que ornam perfeitamente com aquela textura distinta suja-psicodélica do Mouse. Coisa linda. Sente o drama
Flaming Lips - Embryonic
Experimental e admiravelmente incômodo como não era desde o elefante branco Zaireeka, ainda nos anos 90, o Flaming Lips lança um álbum menos convidativo, menos agridoce, menos panda de pelúcia no palco do que seus três anteriores. Boa sacada da tripulação do Wayne Coyne. Nada contra a empatia fácil causada pelas peripécias de Yoshimi, por exemplo, mas antes da passação de mal que foi o filme e a trilha Christmas On Mars, de 2008, a tendência parecia ser traçar rotas mais seguras. Dando sequência à guinada, Embryonic, com sua sonoridade quase krautrock em vários momentos, confunde os mais sensíveis de paladar auditivo (err... sinestesia tem tudo a ver com o disco!). Outra teoria rasteira: como sobrevoar os anos 70 - inclusive pelo formato em vinil, duplo - sem soar revisionista. :) Passa a mão
Grant Hart - Hot Wax
Poucos ouviram e vão ouvir esta pérola aqui. Enquanto o eterno ex-Hüsker Dü Bob Mould lançava mais um solo meia-boca este ano, seu titubeante ex-parceiro/rival de banda quebrou 10 anos "sabáticos" com um belo disquinho: de produção modesta, mas ótimas ideias. Hart é nome cult entre roqueiros underground acima dos 30 - virou até nome de música dos Posies - e, para usar mais um daqueles clichês infalíveis, incorpora um suposto encontro furtivo de Bowie com Brian Wilson tendo os Seeds ou os Sonics como banda de apoio. Em outras palavras: harmonias vocais bem marcadas, órgãos sessentistas e uma cama áspera de guitarras. Try it
Fool's Gold - s/t
Do balaio de bandas recentes que abraçam a África às custas de um malandro intercâmbio social pós-Byrne ou pós-Paul Simon (variantes do nosso pós-tropicalismo caetânico liiindo), o Fool's Gold é das mais convincentes. Formado na Califórnia por dois israelenses e contando com alguns sul-americanos na jogada, o coletivo se distancia das levadinhas simpáticas e esqueléticas do Vampire Weekend - prefere grooves tribais mais preguiçosos, hipnóticos, muitas vezes cantando em hebraico. Alguma influência do Leste Europeu também aparece aqui e ali, mas sem a pegada punk rock do Gogol Bordello. Enfim, pode até ser a típica banda que agrada críticos musicais e curadores de eventos, mas o preconceito vai por água abaixo assim que começa a lânguida "Nadine". Ou durante a instrumental "Night Dancing", em que violões de linhagens balcânicas se enroscam com um naipe de metais afrobeat. Chaparral! Veja qualé
Jarvis Cocker - Further Complications
Se tinha uma banda que não me despertava nada enquanto existiu e teve espaço, foi o Pulp. Com suas letras estilo "tapa com luva de pelica", sempre elogiada por críticos e com séquito considerável, me barrava um pouco por aqueles arranjos afetados, que os fãs chamam de "suntuosos". Mas quando Jarvis lançou em 2006 seu primeiro solo e resolvi ouvir por motivos aleatórios, passei a respeitar. Com a tradicional pinta de professor de linguística e pernas de graveto trajando ternos risca-de-giz, ele não perdeu a mão para escrever mas anfetaminou um tanto o som. Basicamente, trocou alguns referenciais: saem de cena Scott Walker e o pop cameristico e entram Bowie e Iggy Pop fase Lust For Life, sem que isso pareça oportunista ou rançoso. Agora, no segundo solo, a coisa engrenou. Comecei até a simpatizar com algumas coisas do Pulp, como o álbum We Love Life. Só alegria
Cidadão Instigado - Uhuuu!
Para não dizer que não coloquei nada nacional, vai um que representa legal. É o disco mais bem acabado da banda, ao mesmo tempo bastante acessível e psicodélico. Os fraseados tortos da guitarra do Fernando Catatau, na escola do tropicalista Lanny Gordin, estão cada vez melhores. Destaque óbvio pra faixa "Homem Velho", em que ele sonha com o "homem sério" Neil Young dançando reggae na praia de Canoa Quebrada com uma nativa e oferecendo-lhe canções bonitas. Melhor é impossível! Dá uma orelhada
NOMO - Invisible Cities
Mais música negra tocada por branquelos diretamente de Michigan, EUA. Alternando algumas digressões lisérgicas e várias levadas quebradaças de baixo e bateria, mas sempre com a gorda e criativa seção de metais à frente, a banda seria perfeita para acompanhar o black president Fela Kuti caso o nigeriano ainda estivesse neste mundo. Ouvindo repetidas vezes Invisible Cities, dá para imaginar o vozeirão do hômi entrando de solapa quando os fraseados repetitivos já te pegaram de jeito. E com direito a boa versão de "Ma", do Tom Zé. Pensando bem, ficou melhor que a original. Dá uma sacada
Alice In Chains - Black Gives Way To Blue
Pearl Jam - Backspacer
Sem muitas elucubrações aqui. Se você é um cidadão de meia-idade cansado e nostálgico, vai repetir mentalmente "Porque o grúngi nunca há de morrê!" e baixar sem medo esses dois disquinhos, que são melhores do que o cool avant-garde descolado imagina. Se você não se encaixa no grupo acima, pode ouvir os dois sem procurar desculpas. Confere um e depois o outro
E a África do Sul é logo ali!
Danger Mouse & Sparklehorse - Dark Night Of The Soul
Este eu só ouvi aos 45 do segundo tempo. Produtor dos mais requisitados da praça, Danger Mouse passou boa parte de 2009 na maciota. Mas conseguiu fazer bonito colaborando pela segunda vez com Mark Linkous, sujeito que também responde pelo valium com champanhe em forma de música chamado Sparklehorse. O projeto, que também envolve um livro de fotos do David Lynch e passou por imbróglios judiciais com gravadoras antes de sair, junta vários chegados gente-fina como Wayne Coyne, Nina Persson, Iggy Pop, Black Francis, Jason Lytle e Vic Chesnutt (o mais bizarro). Tem também o Julian Casablancas, que não compromete. Todos emprestam voz às canções etéreas de Linkous, que ornam perfeitamente com aquela textura distinta suja-psicodélica do Mouse. Coisa linda. Sente o drama
Flaming Lips - Embryonic
Experimental e admiravelmente incômodo como não era desde o elefante branco Zaireeka, ainda nos anos 90, o Flaming Lips lança um álbum menos convidativo, menos agridoce, menos panda de pelúcia no palco do que seus três anteriores. Boa sacada da tripulação do Wayne Coyne. Nada contra a empatia fácil causada pelas peripécias de Yoshimi, por exemplo, mas antes da passação de mal que foi o filme e a trilha Christmas On Mars, de 2008, a tendência parecia ser traçar rotas mais seguras. Dando sequência à guinada, Embryonic, com sua sonoridade quase krautrock em vários momentos, confunde os mais sensíveis de paladar auditivo (err... sinestesia tem tudo a ver com o disco!). Outra teoria rasteira: como sobrevoar os anos 70 - inclusive pelo formato em vinil, duplo - sem soar revisionista. :) Passa a mão
Grant Hart - Hot Wax
Poucos ouviram e vão ouvir esta pérola aqui. Enquanto o eterno ex-Hüsker Dü Bob Mould lançava mais um solo meia-boca este ano, seu titubeante ex-parceiro/rival de banda quebrou 10 anos "sabáticos" com um belo disquinho: de produção modesta, mas ótimas ideias. Hart é nome cult entre roqueiros underground acima dos 30 - virou até nome de música dos Posies - e, para usar mais um daqueles clichês infalíveis, incorpora um suposto encontro furtivo de Bowie com Brian Wilson tendo os Seeds ou os Sonics como banda de apoio. Em outras palavras: harmonias vocais bem marcadas, órgãos sessentistas e uma cama áspera de guitarras. Try it
Fool's Gold - s/t
Do balaio de bandas recentes que abraçam a África às custas de um malandro intercâmbio social pós-Byrne ou pós-Paul Simon (variantes do nosso pós-tropicalismo caetânico liiindo), o Fool's Gold é das mais convincentes. Formado na Califórnia por dois israelenses e contando com alguns sul-americanos na jogada, o coletivo se distancia das levadinhas simpáticas e esqueléticas do Vampire Weekend - prefere grooves tribais mais preguiçosos, hipnóticos, muitas vezes cantando em hebraico. Alguma influência do Leste Europeu também aparece aqui e ali, mas sem a pegada punk rock do Gogol Bordello. Enfim, pode até ser a típica banda que agrada críticos musicais e curadores de eventos, mas o preconceito vai por água abaixo assim que começa a lânguida "Nadine". Ou durante a instrumental "Night Dancing", em que violões de linhagens balcânicas se enroscam com um naipe de metais afrobeat. Chaparral! Veja qualé
Jarvis Cocker - Further Complications
Se tinha uma banda que não me despertava nada enquanto existiu e teve espaço, foi o Pulp. Com suas letras estilo "tapa com luva de pelica", sempre elogiada por críticos e com séquito considerável, me barrava um pouco por aqueles arranjos afetados, que os fãs chamam de "suntuosos". Mas quando Jarvis lançou em 2006 seu primeiro solo e resolvi ouvir por motivos aleatórios, passei a respeitar. Com a tradicional pinta de professor de linguística e pernas de graveto trajando ternos risca-de-giz, ele não perdeu a mão para escrever mas anfetaminou um tanto o som. Basicamente, trocou alguns referenciais: saem de cena Scott Walker e o pop cameristico e entram Bowie e Iggy Pop fase Lust For Life, sem que isso pareça oportunista ou rançoso. Agora, no segundo solo, a coisa engrenou. Comecei até a simpatizar com algumas coisas do Pulp, como o álbum We Love Life. Só alegria
Cidadão Instigado - Uhuuu!
Para não dizer que não coloquei nada nacional, vai um que representa legal. É o disco mais bem acabado da banda, ao mesmo tempo bastante acessível e psicodélico. Os fraseados tortos da guitarra do Fernando Catatau, na escola do tropicalista Lanny Gordin, estão cada vez melhores. Destaque óbvio pra faixa "Homem Velho", em que ele sonha com o "homem sério" Neil Young dançando reggae na praia de Canoa Quebrada com uma nativa e oferecendo-lhe canções bonitas. Melhor é impossível! Dá uma orelhada
NOMO - Invisible Cities
Mais música negra tocada por branquelos diretamente de Michigan, EUA. Alternando algumas digressões lisérgicas e várias levadas quebradaças de baixo e bateria, mas sempre com a gorda e criativa seção de metais à frente, a banda seria perfeita para acompanhar o black president Fela Kuti caso o nigeriano ainda estivesse neste mundo. Ouvindo repetidas vezes Invisible Cities, dá para imaginar o vozeirão do hômi entrando de solapa quando os fraseados repetitivos já te pegaram de jeito. E com direito a boa versão de "Ma", do Tom Zé. Pensando bem, ficou melhor que a original. Dá uma sacada
Alice In Chains - Black Gives Way To Blue
Pearl Jam - Backspacer
Sem muitas elucubrações aqui. Se você é um cidadão de meia-idade cansado e nostálgico, vai repetir mentalmente "Porque o grúngi nunca há de morrê!" e baixar sem medo esses dois disquinhos, que são melhores do que o cool avant-garde descolado imagina. Se você não se encaixa no grupo acima, pode ouvir os dois sem procurar desculpas. Confere um e depois o outro
E a África do Sul é logo ali!
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Ah, as eternas efemérides...
Nada mais saudável e picareta do que salvar mais uma vez este blógue do estado catatônico aplicando aquela famosa listinha dos bons discos do ano. Aliás, como nunca antes eu havia feito isso, me parece ainda mais adequado. Vamo que vamo então, lembrando que não tem ordem de preferência aqui. Só preferi fugir do tradicional top 10 por questões preguiçosamente explicáveis, e o serviço de utilidade pública que ofereci para adquirir grátis todos os discos online foi por água abaixo, com direito a bronca por e-mail do Mr. Blogger (nada que uma fuçada aqui não resolva). Caso as escolhas estejam muito previsíveis ou se algum disco imprescindível ficou de fora, você tem aquelas duas opções de sempre: me xingar nos comentários ou criar a sua própria.
Sonic Youth - The Eternal
Para gente que começou a ouvir indie rock no início dos anos 90 nos Lados B e Rock Reports da vida - dentre os quais me incluo -, Sonic Youth hoje é classic rock tal qual o Jethro Tull para um senhor cabeludo-careca frequentador do Fofinho Rock Bar. Até aí, sem novas. O problema é que na década seguinte a trupe do Thurston roçou a estagnação, longe de soltar discos ruins, mas em vários momentos parecendo estar no piloto automático, deixando transparecer certa falta de viço. The Eternal alivia um pouco a barra com faixas mais inspiradas. Pode não representar uma nova invenção da roda a essa altura do campeonato, mas reforça aquilo que eles de melhor fazem. Melhor disco deles nos anos 2000, fácil.
Them Crooked Vultures - s/t
Confesso que esperava um pouco mais desta empreitada do Josh Homme, John Paul Jones e Dave Grohl (aqui na bateria, função que deveria cumprir full time). É daqueles discos manhosos, para serem tragados aos poucos, talvez feito com essa intenção mesmo. Mas a sagacidade da rapaziada dá as caras em faixas pesadas e grooveadas como "Gunman" e "Scumbag Blues", dentre as melhores do ano. Perde para a maioria dos discos do Queens of The Stone Age, mas só de colocar a repartição pública chamada Foo Fighters na geladeira, o projeto já ganha meu joinha.
Passion Pit - Manners
Quase um guilty pleasure, Manners poderia ser a trilha perfeita caso vivêssemos numa cidade chamada Neu Club, no estado do Milo Garage (péssima essa, né?). O Passion Pit é uma banda nova de Massachusetts, EUA. Faz indie-pop-eletrônico altamente pegajoso que lembra New Order fase Technique em alguns momentos, mas com aquela voz esganiçada e quase afrescalhada que é marca registrada das bandas pós-punk desta década, prima distante do Rapture. Uma coisa hiper "andando de carro ouvindo Oi FM São Paulo antes da balada na Augusta", sabe? Depois de mais essa infame tripudiada, só precisava dizer: a banda é muito divertida. E excelente para ouvir no mp3 player, correndo na esteira! hehe.
Dinosaur Jr. - Farm
J Mascis é tão filhadaputa, mas tão filhadaputa, que conseguiu reunir a melhor formação do Dinosaur Jr. para servir de banda de apoio disfarçada, sem que os outros dois tenham direito a mostrar suas composições ou tocar no mesmo volume que o fanho barrigudo. No máximo são permitidas tarefas mais aburridas, como dar entrevistas. E o pior é que tudo fica perfeito assim, todos estão cientes disso. Farm é o segundo disco da volta, tão destruidor quanto Beyond (2007). Cada faixa é uma espécie de homenagem de Mascis a ele mesmo, com aquele timbre de guitarra parrudo e ignorante (no melhor sentido).
Bruce Springsteen - Working On A Dream
Momento Rocky Balboa: além de ter a música-trilha do subestimado O Lutador, foi o disco que o Rogério Ceni disse ter ouvido enquanto se recuperava de uma lesão grave este ano. Quer melhor aval?? :)
Também é a continuidade da boa fase do Chefia desde The Rising (2002), que ironicamente partiu de um dos mais tenebrosos incidentes históricos recentes (11 de Setembro) para reerguer sua credibilidade discográfica após uma medonha década de 90.
Soulsavers - Broken
Segunda parceria entre os produtores ingleses e o gogó-de-lixa Mark Lanegan, mas o resultado da primeira incursão foi tão animador que decidiram chamar mais gente pra festa. Mike Patton, Richard Hawley (ex-Pulp), Gibby Haynes (Butthole Surfers), Jason Pierce (Spiritualized), uma tal de Red Ghost (entregando bem o cartão de visita), covers de Gene Clark e Will Oldham... tem de tudo ali, sempre com a boa e velha cortina de fumaça.
John Frusciante - The Empyrean
Já que parece certa a saída de Frusciante dos Chili Peppers, aumenta a chance de material bom como este surgir quase todo ano. Se a coisa não degringolar de novo para a rotina dos cachimbinhos sinistros, braços roxos e casas pegando fogo, a decisão foi total bola dentro. Tirando "Dark Light", uma faixa interminável e pretensamente mântrica lá no meio, o disco desce mais macio que um merlot nas horas de melancolia. E a voz do cara está cada vez melhor.
Lemonheads - Varshons
Ainda falando em junkies, Evan Dando volta à baila com um disco só de versões despretensiosas, o que, no caso dele, é uma boa contradição. Embora os covers sempre foram seu coelho na cartola ("Luka" e "Mrs. Robinson", lembra?), Varshons soa deveras descontraído, low profile. Mesmo com participações luxuosas de Liv Tyler e Kate Moss, a sensação passada não é de tentativa de resgatar o trono acolchoado de "Gram Parsons que deu certo" de outrora (tem cover do Parsons no disco, por sinal). Destaque para "Layin' Up With Linda", do mestre GG Allin.
Em breve deve vir uma parte 2. Antes de você sentir cheiro de peru assado...
Sonic Youth - The Eternal
Para gente que começou a ouvir indie rock no início dos anos 90 nos Lados B e Rock Reports da vida - dentre os quais me incluo -, Sonic Youth hoje é classic rock tal qual o Jethro Tull para um senhor cabeludo-careca frequentador do Fofinho Rock Bar. Até aí, sem novas. O problema é que na década seguinte a trupe do Thurston roçou a estagnação, longe de soltar discos ruins, mas em vários momentos parecendo estar no piloto automático, deixando transparecer certa falta de viço. The Eternal alivia um pouco a barra com faixas mais inspiradas. Pode não representar uma nova invenção da roda a essa altura do campeonato, mas reforça aquilo que eles de melhor fazem. Melhor disco deles nos anos 2000, fácil.
Them Crooked Vultures - s/t
Confesso que esperava um pouco mais desta empreitada do Josh Homme, John Paul Jones e Dave Grohl (aqui na bateria, função que deveria cumprir full time). É daqueles discos manhosos, para serem tragados aos poucos, talvez feito com essa intenção mesmo. Mas a sagacidade da rapaziada dá as caras em faixas pesadas e grooveadas como "Gunman" e "Scumbag Blues", dentre as melhores do ano. Perde para a maioria dos discos do Queens of The Stone Age, mas só de colocar a repartição pública chamada Foo Fighters na geladeira, o projeto já ganha meu joinha.
Passion Pit - Manners
Quase um guilty pleasure, Manners poderia ser a trilha perfeita caso vivêssemos numa cidade chamada Neu Club, no estado do Milo Garage (péssima essa, né?). O Passion Pit é uma banda nova de Massachusetts, EUA. Faz indie-pop-eletrônico altamente pegajoso que lembra New Order fase Technique em alguns momentos, mas com aquela voz esganiçada e quase afrescalhada que é marca registrada das bandas pós-punk desta década, prima distante do Rapture. Uma coisa hiper "andando de carro ouvindo Oi FM São Paulo antes da balada na Augusta", sabe? Depois de mais essa infame tripudiada, só precisava dizer: a banda é muito divertida. E excelente para ouvir no mp3 player, correndo na esteira! hehe.
Dinosaur Jr. - Farm
J Mascis é tão filhadaputa, mas tão filhadaputa, que conseguiu reunir a melhor formação do Dinosaur Jr. para servir de banda de apoio disfarçada, sem que os outros dois tenham direito a mostrar suas composições ou tocar no mesmo volume que o fanho barrigudo. No máximo são permitidas tarefas mais aburridas, como dar entrevistas. E o pior é que tudo fica perfeito assim, todos estão cientes disso. Farm é o segundo disco da volta, tão destruidor quanto Beyond (2007). Cada faixa é uma espécie de homenagem de Mascis a ele mesmo, com aquele timbre de guitarra parrudo e ignorante (no melhor sentido).
Bruce Springsteen - Working On A Dream
Momento Rocky Balboa: além de ter a música-trilha do subestimado O Lutador, foi o disco que o Rogério Ceni disse ter ouvido enquanto se recuperava de uma lesão grave este ano. Quer melhor aval?? :)
Também é a continuidade da boa fase do Chefia desde The Rising (2002), que ironicamente partiu de um dos mais tenebrosos incidentes históricos recentes (11 de Setembro) para reerguer sua credibilidade discográfica após uma medonha década de 90.
Soulsavers - Broken
Segunda parceria entre os produtores ingleses e o gogó-de-lixa Mark Lanegan, mas o resultado da primeira incursão foi tão animador que decidiram chamar mais gente pra festa. Mike Patton, Richard Hawley (ex-Pulp), Gibby Haynes (Butthole Surfers), Jason Pierce (Spiritualized), uma tal de Red Ghost (entregando bem o cartão de visita), covers de Gene Clark e Will Oldham... tem de tudo ali, sempre com a boa e velha cortina de fumaça.
John Frusciante - The Empyrean
Já que parece certa a saída de Frusciante dos Chili Peppers, aumenta a chance de material bom como este surgir quase todo ano. Se a coisa não degringolar de novo para a rotina dos cachimbinhos sinistros, braços roxos e casas pegando fogo, a decisão foi total bola dentro. Tirando "Dark Light", uma faixa interminável e pretensamente mântrica lá no meio, o disco desce mais macio que um merlot nas horas de melancolia. E a voz do cara está cada vez melhor.
Lemonheads - Varshons
Ainda falando em junkies, Evan Dando volta à baila com um disco só de versões despretensiosas, o que, no caso dele, é uma boa contradição. Embora os covers sempre foram seu coelho na cartola ("Luka" e "Mrs. Robinson", lembra?), Varshons soa deveras descontraído, low profile. Mesmo com participações luxuosas de Liv Tyler e Kate Moss, a sensação passada não é de tentativa de resgatar o trono acolchoado de "Gram Parsons que deu certo" de outrora (tem cover do Parsons no disco, por sinal). Destaque para "Layin' Up With Linda", do mestre GG Allin.
Em breve deve vir uma parte 2. Antes de você sentir cheiro de peru assado...
sábado, 14 de novembro de 2009
Interlúdio
Tive um sonho quase kubrickeano essa semana. Era como se uma espécie de nave espacial voasse durante horas pelo céu da Terra, mas apesar de meu campo de visão ser o de quem está dentro dela, eu observava de um lugar à parte. Um recinto tão escuro e direcionado quanto uma sala de cinema, mas sem poltronas, cheiro de pipoca amanteigada e gente sem educação no celular. De um enorme painel transparente dianteiro dava para ver o que passava lá embaixo, uma mistura de paisagem rural e urbana: pastos, árvores agrupadas, vegetação e rios, mas também prédios, carros e avenidas. Não me lembro de ver pessoas. A embarcação voadora também não tinha nenhum equipamento para controlá-la e se resumia a um salão vazio e amplo, com paredes de aço e chão cheio de círculos de vidro por onde também dava para contemplar o panorama externo.
Para complementar, mais dois detalhes bizarros. Primeiro: apesar de ter certeza de que estava sobrevoando a Terra, a maior parte da paisagem fora da nave, com exceção de alguns detalhes, tinha cores parecidas - marrons, avermelhadas, cor de terra e poeira. Uma espécie de híbrido de Terra com Marte, o que agora me faz lembrar do filme não kubrickeano Vingador do Futuro. Outro ingrediente era uma voz masculina plácida, grave e agradável, que, como um veterano narrador do Discovery Channel, explicava o que se via e acrescentava "dados confidenciais importantes", como o fato de a Terra ser um grão de areia em relação ao universo; a possibilidade de haver vida fora dela ser considerável; e a incapacidade da tecnologia do planeta impedir que esses seres conheçam a Terra e os humanos caso assim queiram. Depois, enquanto uma música eletrônica onírica e marcial surgia e se intensificava, a voz ficava repetindo esse mesmo tipo de informação com a mesma calma e naturalidade didática, mas usando palavras diferentes.
Acordei no susto. Não olhei que horas eram, mas o dia ainda não estava totalmente claro. Horário de verão desnorteia os desavisados. Na verdade, barulhos estranhos - pelo menos para aquela hora - chegavam do hall do andar até os meus ouvidos semiconscientes: passos pesados e rápidos, aparentemente de mais de uma pessoa. Achei que talvez estivessem assaltando o prédio, passando apressadamente por cada andar, e resolvi aceitar um novo convite ao sono e ignorar uma eventual batida na porta. Nem sempre é recomendável subestimar o inconsciente.
Para complementar, mais dois detalhes bizarros. Primeiro: apesar de ter certeza de que estava sobrevoando a Terra, a maior parte da paisagem fora da nave, com exceção de alguns detalhes, tinha cores parecidas - marrons, avermelhadas, cor de terra e poeira. Uma espécie de híbrido de Terra com Marte, o que agora me faz lembrar do filme não kubrickeano Vingador do Futuro. Outro ingrediente era uma voz masculina plácida, grave e agradável, que, como um veterano narrador do Discovery Channel, explicava o que se via e acrescentava "dados confidenciais importantes", como o fato de a Terra ser um grão de areia em relação ao universo; a possibilidade de haver vida fora dela ser considerável; e a incapacidade da tecnologia do planeta impedir que esses seres conheçam a Terra e os humanos caso assim queiram. Depois, enquanto uma música eletrônica onírica e marcial surgia e se intensificava, a voz ficava repetindo esse mesmo tipo de informação com a mesma calma e naturalidade didática, mas usando palavras diferentes.
Acordei no susto. Não olhei que horas eram, mas o dia ainda não estava totalmente claro. Horário de verão desnorteia os desavisados. Na verdade, barulhos estranhos - pelo menos para aquela hora - chegavam do hall do andar até os meus ouvidos semiconscientes: passos pesados e rápidos, aparentemente de mais de uma pessoa. Achei que talvez estivessem assaltando o prédio, passando apressadamente por cada andar, e resolvi aceitar um novo convite ao sono e ignorar uma eventual batida na porta. Nem sempre é recomendável subestimar o inconsciente.
quinta-feira, 2 de julho de 2009
Como ter classe na sarjeta
Foi esta quarta o esperado show de nome antieufemismos "An Evening With Greg Dulli & Mark Lanegan", a versão enxuta e intimista do Gutter Twins. E aqui estou eu até agora dando voltas para concatenar algumas generalidades sobre a noite de gala, mas antes fica o tira-gosto com "God's Children". Petisco não-superfaturado, porque aqui não é Bourbon Street não, fio.
Começando com a resposta malandra do Dulli para a viuvada grúngi: "We'll play everything we can, I promise. No one here is in a hurry, believe me". E o Lanegan (escondido ali no meio) puxando os primeiros versos de "All Along The Watchtower" no final, meu amigo, foi de lascar a safena.
Isso porque foi só a segunda da noite, e uma faixa de 2008. Epifanias à parte, foi uma apresentação honesta, meio curta para a expectativa dos presentes, mas jogando pela democracia. No set list, em média três canções de cada projeto da dupla - Afghan Whigs, Screaming Trees, Twilight Singers, Lanegan solo e alguns covers (José Gonzalez, Nick Drake).
Bourbon Street mais cheio do que o esperado, camaradagem na porta de entrada, iluminação baixa com direito a velas, Stella Artois long neck a seis reáu e o trio de distintos quarentões (o terceiro era o único músico de apoio) é recebido com um aguaçal de pedidos por velharias já nas três primeiras músicas. Logo ficou claro um dos poucos poréns da noite: Dulli e Lanegan demoraram anos para vir para cá, o que parece ter deixado confusa e consternada a fiel viuvada - menos histérica e numerosa que os fãs do Radiohead, é verdade, mas igualmente joselítica.
Greg Dulli, com a voz nos cascos e alternando entre o violão e o piano elétrico, começou comunicativo, mas depois falou pouco. Foi notável, ainda assim, a empolgação do sujeito de preto com o calor latino, sorrindo à toa mesmo durante músicas que ele não compôs, como "Dollar Bill". Mark Lanegan manteve a fama de lacônico nos melhores momentos e macambúzio nos piores, mal encarando a plateia ávida por "Nearly Lost You" e se concentrando na váibe do momento e nos barítonos roufenhos e cheios de viço, sua marca registrada.
Também merecedora de nota foi a volta dos dois no final, aquele momento "salve simpatia" para dar autógrafos e receber um calorzim humano. O assédio foi tamanho que dá para especular se os gêmeos da latrina carregarão menos a mão nos infortúnios e na armagura nos próximos trabalhos. Um negócio comovente. Fiquei espiando de longe, satisfeito com a melhor 1h20 da semana, proporcionada por dois dos macacos velhos mais dignos do róque americano que interessa desde 1992.
Difícil eleger a campeã da noite. Tavez "If I Were Going" ou "What Jail Is Like", as melhores do disco Gentlemen.
Começando com a resposta malandra do Dulli para a viuvada grúngi: "We'll play everything we can, I promise. No one here is in a hurry, believe me". E o Lanegan (escondido ali no meio) puxando os primeiros versos de "All Along The Watchtower" no final, meu amigo, foi de lascar a safena.
Isso porque foi só a segunda da noite, e uma faixa de 2008. Epifanias à parte, foi uma apresentação honesta, meio curta para a expectativa dos presentes, mas jogando pela democracia. No set list, em média três canções de cada projeto da dupla - Afghan Whigs, Screaming Trees, Twilight Singers, Lanegan solo e alguns covers (José Gonzalez, Nick Drake).
Bourbon Street mais cheio do que o esperado, camaradagem na porta de entrada, iluminação baixa com direito a velas, Stella Artois long neck a seis reáu e o trio de distintos quarentões (o terceiro era o único músico de apoio) é recebido com um aguaçal de pedidos por velharias já nas três primeiras músicas. Logo ficou claro um dos poucos poréns da noite: Dulli e Lanegan demoraram anos para vir para cá, o que parece ter deixado confusa e consternada a fiel viuvada - menos histérica e numerosa que os fãs do Radiohead, é verdade, mas igualmente joselítica.
Greg Dulli, com a voz nos cascos e alternando entre o violão e o piano elétrico, começou comunicativo, mas depois falou pouco. Foi notável, ainda assim, a empolgação do sujeito de preto com o calor latino, sorrindo à toa mesmo durante músicas que ele não compôs, como "Dollar Bill". Mark Lanegan manteve a fama de lacônico nos melhores momentos e macambúzio nos piores, mal encarando a plateia ávida por "Nearly Lost You" e se concentrando na váibe do momento e nos barítonos roufenhos e cheios de viço, sua marca registrada.
Também merecedora de nota foi a volta dos dois no final, aquele momento "salve simpatia" para dar autógrafos e receber um calorzim humano. O assédio foi tamanho que dá para especular se os gêmeos da latrina carregarão menos a mão nos infortúnios e na armagura nos próximos trabalhos. Um negócio comovente. Fiquei espiando de longe, satisfeito com a melhor 1h20 da semana, proporcionada por dois dos macacos velhos mais dignos do róque americano que interessa desde 1992.
Difícil eleger a campeã da noite. Tavez "If I Were Going" ou "What Jail Is Like", as melhores do disco Gentlemen.
sábado, 27 de junho de 2009
Fliperama zen
Digamos que é sempre tentador e intimidante tentar escrever sobre discos favoritos. Imagine então para um arremedo de resenhista de merda como eu o que seria destrinchar Zen Arcade, terceiro e melhor álbum do Hüsker Dü. Pois descobri por acaso que quase tudo o que eu gostaria de falar sobre o disco, não só o mais rico da banda como também um dos mais maduros e importantes do punk e do rock da década de 80, foi feito com galhardia no Trabalho Sujo, do Alexandre Matias. Fugindo dos lugares-comuns de "ópera punk" ou "disco conceitual", os comentários sobre cada faixa me fizeram reouvir o álbum descobrindo vários elementos novos, quase que com aquela perspectiva invejável de quem coloca pelas primeiras vezes os ouvidos numa obra dessa envergadura (bem picareta usar esses clichês de crítico literário para um disco punk, né não?).
O que mais me cativa no disco é o que passa inicialmente despercebido devido à gravação e execução rudimentar, feita por caras pouco carismáticos (ou, sem eufemismos, feios pra caralho) de 20 e poucos anos que até um ano antes expeliam um punk rock tosco e caótico. Em Zen Arcade a história já é outra e as nuances musicais e textuais se desdobram. O monólito começa a ser trabalhado. Nenhuma faixa está lá por acaso ou para encher linguiça, como aparentemente pode-se pensar, e quem procura o álbum por motivos aleatórios como "descobrir as raízes do emo" ou "conhecer uma barulheira punk das antigas" pode perder o que ele tem de melhor. Aliás, desde moleque eu ouvia falar que as letras do Jello Biafra eram feitas para combinar perfeitamente com o clima das músicas dos Dead Kennedys, mas não sabia que Bob Mould e Grant Hart (os dois vocalistas/compositores do Hüsker) tinham a mesma destreza. Assim, dá pra sacar que as faixas mais rápidas e gritadas de Zen Arcade falam sobre a confusão ou ressentimento do 'protagonista', enquanto que as mais melódicas e cadenciadas remetem a passagens reflexivas e existenciais.
Feio e bonito, agressivo e melódico, Zen Arcade é tudo o que o Green Day tenta pateticamente emular em seus últimos dois discos "políticos". Enfim, chega de frases feitas: leia o texto e ouça milhares de vezes o disco.
O que mais me cativa no disco é o que passa inicialmente despercebido devido à gravação e execução rudimentar, feita por caras pouco carismáticos (ou, sem eufemismos, feios pra caralho) de 20 e poucos anos que até um ano antes expeliam um punk rock tosco e caótico. Em Zen Arcade a história já é outra e as nuances musicais e textuais se desdobram. O monólito começa a ser trabalhado. Nenhuma faixa está lá por acaso ou para encher linguiça, como aparentemente pode-se pensar, e quem procura o álbum por motivos aleatórios como "descobrir as raízes do emo" ou "conhecer uma barulheira punk das antigas" pode perder o que ele tem de melhor. Aliás, desde moleque eu ouvia falar que as letras do Jello Biafra eram feitas para combinar perfeitamente com o clima das músicas dos Dead Kennedys, mas não sabia que Bob Mould e Grant Hart (os dois vocalistas/compositores do Hüsker) tinham a mesma destreza. Assim, dá pra sacar que as faixas mais rápidas e gritadas de Zen Arcade falam sobre a confusão ou ressentimento do 'protagonista', enquanto que as mais melódicas e cadenciadas remetem a passagens reflexivas e existenciais.
Feio e bonito, agressivo e melódico, Zen Arcade é tudo o que o Green Day tenta pateticamente emular em seus últimos dois discos "políticos". Enfim, chega de frases feitas: leia o texto e ouça milhares de vezes o disco.
terça-feira, 23 de junho de 2009
Miudezas de Liverpool
Eu estava devendo algum comentário sobre John Lennon - A Vida, de Philip Norman, a biografia definitiva do homem so far, leitura arrematada em maio após quase dois meses de deleite. Como as resenhas da maioria dos jornais e sites já destrincharam o que o tijolão traz de mais relevante, quebro esse protocolo e vou direto a um dos meus assuntos periféricos favoritos (me identifico com eles). Um dos grandes favores do livro foi me levar a discos-solo não tão celebrados dos três Beatles mais talentosos. Itens a priori coadjuvantes nas respectivas discografias, mas com potencial incontestável - e nada que fuja da cartilha de um iniciado. Afinal, as descrições objetivas e contextualizadas de Norman sobre cada momento em que Lennon entrou em estúdio fazem o leitor relevar e eventualmente simpatizar até com faixas de Double Fantasy, o meloso e sereno álbum derradeiro.
Walls And Bridges, o quinto de Lennon depois que o sonho acabou, é um belo exemplo de coadjuvante subestimado. Foi lançado em 1974, próximo ao fim da lost weekend de Lennon, período hedonista em que ele tirou férias de Yoko e passou uns tempos na California com uma rapaziada saudável e gente-fina como Keith Moon e Phil Spector em clima de acampamento de escoteiros. É impressionante constatar que o ritmo de festa da época pouco afetou a inspiração de Mr. Winston, que produziu seu terceiro melhor disco (depois de Plastic Ono Band e Imagine, claro). A textura e alguns timbres sugerem a atmosfera decadente típica do meio dos anos 70, com alguns arranjos emulando o suíngue dos sintetizadores de Stevie Wonder, num desbunde pré-disco, mas com a voz rasgada de Lennon descosturando qualquer suposta proximidade com a cafonice. Um destaque óbvio vai para a festeira "Whatever Gets You Through The Night", parceria com o sujeito-homem Elton John. A faixa marcou por ser a última que Lennon executou ao vivo, numa aparição surpresa durante um show do Eltão em Nova York naquele mesmo ano. Tem também a etérea "Number 9 Dream", com seu bizarro refrão "Ah! Böwakawa poussé, poussé" e uma voz feminina do além chamando "John...", como se tentasse acordá-lo do sonho. Poderia ser a Yoko na gravação, mas é May Pang, a assistente pessoal (em todos os sentidos, consentida inclusive pela titular). Por fim, a rancorosa "Steel and Glass" tem um belíssimo arranjo orquestrado e um desempenho vocal acachapante. O Beck deve ter ouvido bastante enquanto fazia o dilacerado Sea Change.
Um rodapé interessante dessa fase do Walrus é o fato de ele ter participado da composição de "Fame", indefectível hit bowieano lançado em 75. Mais uma prova de que a perfeição também se alcança pelas tortuosas vias da pândega.
Outro disco pouco incensado é o Brainwashed, do George, lançado em 2002, um ano após sua morte. Com produção finalizada pelo filho Dhani Harrison e pelo compadre Jeff Lynne (da Electric Light Orchestra, banda subestimada que um dia merecerá texto por aqui), é aquele trabalho menor e outonal, mas bonito pra dedéu. Como de costume, George flerta com elementos étnicos e espirituais e toca bastante ukulele, aquele violãozinho de quatro cordas, mas sempre favorecendo as boas melodias e evitando o pedantismo. Sabendo que tinha pouco tempo de vida, o cara conseguiu criar um momento terno e digno, sem as arestas da pieguice. Confira a faixa-título, um apoteótico róque de tiozinho dos bons (ver post abaixo) com a assinatura de Mr. Lynne nas harmonias vocais.
Já estou encaminhado nas pequenas pérolas da discografia do Macca, como a tosquice do bem Wild Life, mas fica pra uma próxima. E Ringão, meu chapa, talvez você seja o cara mais cool e boa praça do pop, mas o "rival" Dennis Wilson te deixou no chinelo na hora da verdade.
Walls And Bridges, o quinto de Lennon depois que o sonho acabou, é um belo exemplo de coadjuvante subestimado. Foi lançado em 1974, próximo ao fim da lost weekend de Lennon, período hedonista em que ele tirou férias de Yoko e passou uns tempos na California com uma rapaziada saudável e gente-fina como Keith Moon e Phil Spector em clima de acampamento de escoteiros. É impressionante constatar que o ritmo de festa da época pouco afetou a inspiração de Mr. Winston, que produziu seu terceiro melhor disco (depois de Plastic Ono Band e Imagine, claro). A textura e alguns timbres sugerem a atmosfera decadente típica do meio dos anos 70, com alguns arranjos emulando o suíngue dos sintetizadores de Stevie Wonder, num desbunde pré-disco, mas com a voz rasgada de Lennon descosturando qualquer suposta proximidade com a cafonice. Um destaque óbvio vai para a festeira "Whatever Gets You Through The Night", parceria com o sujeito-homem Elton John. A faixa marcou por ser a última que Lennon executou ao vivo, numa aparição surpresa durante um show do Eltão em Nova York naquele mesmo ano. Tem também a etérea "Number 9 Dream", com seu bizarro refrão "Ah! Böwakawa poussé, poussé" e uma voz feminina do além chamando "John...", como se tentasse acordá-lo do sonho. Poderia ser a Yoko na gravação, mas é May Pang, a assistente pessoal (em todos os sentidos, consentida inclusive pela titular). Por fim, a rancorosa "Steel and Glass" tem um belíssimo arranjo orquestrado e um desempenho vocal acachapante. O Beck deve ter ouvido bastante enquanto fazia o dilacerado Sea Change.
Um rodapé interessante dessa fase do Walrus é o fato de ele ter participado da composição de "Fame", indefectível hit bowieano lançado em 75. Mais uma prova de que a perfeição também se alcança pelas tortuosas vias da pândega.
Outro disco pouco incensado é o Brainwashed, do George, lançado em 2002, um ano após sua morte. Com produção finalizada pelo filho Dhani Harrison e pelo compadre Jeff Lynne (da Electric Light Orchestra, banda subestimada que um dia merecerá texto por aqui), é aquele trabalho menor e outonal, mas bonito pra dedéu. Como de costume, George flerta com elementos étnicos e espirituais e toca bastante ukulele, aquele violãozinho de quatro cordas, mas sempre favorecendo as boas melodias e evitando o pedantismo. Sabendo que tinha pouco tempo de vida, o cara conseguiu criar um momento terno e digno, sem as arestas da pieguice. Confira a faixa-título, um apoteótico róque de tiozinho dos bons (ver post abaixo) com a assinatura de Mr. Lynne nas harmonias vocais.
Já estou encaminhado nas pequenas pérolas da discografia do Macca, como a tosquice do bem Wild Life, mas fica pra uma próxima. E Ringão, meu chapa, talvez você seja o cara mais cool e boa praça do pop, mas o "rival" Dennis Wilson te deixou no chinelo na hora da verdade.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Voltando à programação normal
Já que o post anterior rendeu as mais intrigantes interpretações, melhor desanuviar escrevendo mais um pouco sobre música, hehe.
O Guided By Voices é uma das minhas mais recentes melhores bandas de todos os tempos e pode até ser batida para muitos, mas admito que comecei a gostar de verdade tardiamente. Tinha preconceito com os discos porcamente gravados até a metade dos anos 90, cheios daquele orgulho meio estéril de ser lo-fi e cada um com umas 25 pequenas pérolas da melodia soterradas numa gravação de fundo de quintal. Não conseguia ver o diamante por baixo da fuligem. Muita gente - a maioria proveniente ou com o pé no indie - via o vocalista e dono da banda, Robert Pollard, como um herói. Pra mim era difícil de entender, visto que se trata de um sujeito mais maduro (deve ter mais de 50 hoje) e com a fisionomia de um corretor de imóveis. Também não sacava por que a Trama despejava boa parte da discografia deles por aqui. Mas há uns 5 anos resolvi pegar aleatoriamente um desses discos para ouvir e tive a sorte de escolher justo o ótimo Universal Truths And Cycles (2002), da fase mais, digamos, "adulta" do GBV. Uma canção mais perfeita que a outra, do tipo que acaba no momento certo, sem gorduras, como os bons discos dos anos 60.
Comecei a reparar que o charme dessa banda de Ohio (EUA) é justamente essa beleza desconjuntada e falta total de glamour. Imagine as harmonias vocais e a pegada do Who executadas com algum desleixo, por gente que prefere gastar o tempo livre lendo ou bebendo, e não ensaiando. É róque para tiozinho com sangue quente e sem medo de ser feliz (desculpe o clichê). Aquele que cai de para-quedas numa festa só com gente abaixo de 20 anos e enche a cara sem a menor cerimônia, ou o que fica nervoso ao ligar para a dona que lhe passou o número num flerte no supermercado.
Para vencer rápido o preconceito pelo qual passei, a dica é começar pelos discos com gravação decente, a partir do Mag Earwhig! (1998), quando Mr. Pollard dispensou toda a banda antiga e recrutou o pessoal da garageira Cobra Verde. O seguinte, Do The Collapse (1999), abre com a ótima "Teenage FBI" e é um dos mais bem produzidos, a cargo do leprechaun Ric Ocasek (ex-Cars - lembra da melosa "Drive"?). Mas o campeão aqui em casa, pelo menos por enquanto, é o Isolation Drills (2001). Difícil não simpatizar pelo quarentão cantando "Glad Girls". A letra e a melodia são tão simples que conseguem ser ridículas e geniais ao mesmo tempo. Não estranharia se soubesse da aprovação do velho Macca.
No vídeo abaixo eles ainda por cima tocam na Amoeba Records, provavelmente a melhor loja de discos do mundo (loja de discos? Que negócio anacrônico). Repara no furor do chute no ar desengonçado que ele dá logo no início. =)
Não aguentei e postei mais um:
O Guided By Voices é uma das minhas mais recentes melhores bandas de todos os tempos e pode até ser batida para muitos, mas admito que comecei a gostar de verdade tardiamente. Tinha preconceito com os discos porcamente gravados até a metade dos anos 90, cheios daquele orgulho meio estéril de ser lo-fi e cada um com umas 25 pequenas pérolas da melodia soterradas numa gravação de fundo de quintal. Não conseguia ver o diamante por baixo da fuligem. Muita gente - a maioria proveniente ou com o pé no indie - via o vocalista e dono da banda, Robert Pollard, como um herói. Pra mim era difícil de entender, visto que se trata de um sujeito mais maduro (deve ter mais de 50 hoje) e com a fisionomia de um corretor de imóveis. Também não sacava por que a Trama despejava boa parte da discografia deles por aqui. Mas há uns 5 anos resolvi pegar aleatoriamente um desses discos para ouvir e tive a sorte de escolher justo o ótimo Universal Truths And Cycles (2002), da fase mais, digamos, "adulta" do GBV. Uma canção mais perfeita que a outra, do tipo que acaba no momento certo, sem gorduras, como os bons discos dos anos 60.
Comecei a reparar que o charme dessa banda de Ohio (EUA) é justamente essa beleza desconjuntada e falta total de glamour. Imagine as harmonias vocais e a pegada do Who executadas com algum desleixo, por gente que prefere gastar o tempo livre lendo ou bebendo, e não ensaiando. É róque para tiozinho com sangue quente e sem medo de ser feliz (desculpe o clichê). Aquele que cai de para-quedas numa festa só com gente abaixo de 20 anos e enche a cara sem a menor cerimônia, ou o que fica nervoso ao ligar para a dona que lhe passou o número num flerte no supermercado.
Para vencer rápido o preconceito pelo qual passei, a dica é começar pelos discos com gravação decente, a partir do Mag Earwhig! (1998), quando Mr. Pollard dispensou toda a banda antiga e recrutou o pessoal da garageira Cobra Verde. O seguinte, Do The Collapse (1999), abre com a ótima "Teenage FBI" e é um dos mais bem produzidos, a cargo do leprechaun Ric Ocasek (ex-Cars - lembra da melosa "Drive"?). Mas o campeão aqui em casa, pelo menos por enquanto, é o Isolation Drills (2001). Difícil não simpatizar pelo quarentão cantando "Glad Girls". A letra e a melodia são tão simples que conseguem ser ridículas e geniais ao mesmo tempo. Não estranharia se soubesse da aprovação do velho Macca.
No vídeo abaixo eles ainda por cima tocam na Amoeba Records, provavelmente a melhor loja de discos do mundo (loja de discos? Que negócio anacrônico). Repara no furor do chute no ar desengonçado que ele dá logo no início. =)
Não aguentei e postei mais um:
sexta-feira, 5 de junho de 2009
O problema é todo seu
Hoje seria o tão esperado dia de atualizar esta porcaria, mas uma nova série de pataquadas e migués alheios na área profissional arrancaram meu humor como se este fosse um tumor maligno. As ideias que eu vinha digerindo à base de laxante para serem modeladas em um produto final limpinho, cheiroso e facilmente consumível se dispersaram, tornando o trabalho ainda mais árduo. Areia no canal retal nunca é demais. Principalmente depois de olharmos para o nosso próprio umbigo encardido por dias e dias e querermos tirar todo esse ranço com resina, esfregando com um maço de estopa embebido em thinner.
A primeira opção, como sempre, é entrar na primeira comporta lateral e falar sobre música, sobre aquele disco Xis que acabou de cair na rede ou aquela banda Schreiffels que passou batida por anos e que de uma hora para outra se tornou um vício digno de cachimbadas em caneta Bic, um terreno fértil para a escapada da realidade de todas as horas. Escapadas já promovidas com maestria nonsense pelo Captain Beefheart, por exemplo: um demente sagaz, rápido e bulbuloso. Mas fico me perguntando mais uma vez - coisa de doente mental que repete a mesma ladainha para a rachadura da parede - quem entra aqui atrás de discos e dicas e novas musiquinhas para acalmar/atiçar o espírito? O que você ganha me elogiando se nem leu o texto inteiro? Aliás, quem entra aqui e por que entra? Além dos três caríssimos de sempre, claro.
O que me levou a repensar em um dos meus recentes elefantes brancos de louça na cristaleira, o podcast. Sim, este que está com link aí ao lado. Se você que lê isto aqui por acaso é um incauto, não me conhece e não se deu ao menor trabalho de rolar a tela para baixo até um minipost em que anuncio a abertura da porta do cafofo; se você até tem certa curiosidade de ouvir sons a que esteja pouco acostumado, mas carece de sugestões; se você é um arrivista que enche o saco até do vô no além atrás de um favorzinho inofensivo e não tem a menor dignidade de retribuir; se você tem algum tempo ocioso no meio do horário de trabalho ou à noite ou de manhã ou quando for, favor clicar no link à direita. É gratuito e não precisa preencher cadastro para ouvir. Basta ter placa de som na sua máquina e (de preferência) fones de ouvido, pois a gravação está a léguas de ser profissa. A questão é que de vez em quando dou uma fuçada nas estatísticas de lá e não chego nunca a uma conclusão. Se a coisa tá rolando legal, se não acrescenta merda alguma, se a qualidade do som é de fundo de quintal, se minha vox sexy est, se tudo soa como redundância e arroubo wannabe. Pessoalmente, me diverte e me dá um certo trabalho, na mesma medida. Ah, e por último, se você escreve, gosta daquilo que fala, evita colocar vírgula entre sujeito e verbo e tá à toa na pequena área, estamos aí. Um link esperto, uma palavra bem colocada, uma cerveja ou um café no momento certo e o mau humor é morto com uma só cajadada na moleira.
Fim provisório da sessão "anybody out there?". O que sei é que tá quente aqui dentro e frio aí fora. Se você leu até aqui esta cartilagem de galinha em forma de texto, o problema é seu.
E para sumir de vez com o tarja preta, aí vai o vídeo daquele famoso show dos Cramps num hospital psiquiátrico americano:
A primeira opção, como sempre, é entrar na primeira comporta lateral e falar sobre música, sobre aquele disco Xis que acabou de cair na rede ou aquela banda Schreiffels que passou batida por anos e que de uma hora para outra se tornou um vício digno de cachimbadas em caneta Bic, um terreno fértil para a escapada da realidade de todas as horas. Escapadas já promovidas com maestria nonsense pelo Captain Beefheart, por exemplo: um demente sagaz, rápido e bulbuloso. Mas fico me perguntando mais uma vez - coisa de doente mental que repete a mesma ladainha para a rachadura da parede - quem entra aqui atrás de discos e dicas e novas musiquinhas para acalmar/atiçar o espírito? O que você ganha me elogiando se nem leu o texto inteiro? Aliás, quem entra aqui e por que entra? Além dos três caríssimos de sempre, claro.
O que me levou a repensar em um dos meus recentes elefantes brancos de louça na cristaleira, o podcast. Sim, este que está com link aí ao lado. Se você que lê isto aqui por acaso é um incauto, não me conhece e não se deu ao menor trabalho de rolar a tela para baixo até um minipost em que anuncio a abertura da porta do cafofo; se você até tem certa curiosidade de ouvir sons a que esteja pouco acostumado, mas carece de sugestões; se você é um arrivista que enche o saco até do vô no além atrás de um favorzinho inofensivo e não tem a menor dignidade de retribuir; se você tem algum tempo ocioso no meio do horário de trabalho ou à noite ou de manhã ou quando for, favor clicar no link à direita. É gratuito e não precisa preencher cadastro para ouvir. Basta ter placa de som na sua máquina e (de preferência) fones de ouvido, pois a gravação está a léguas de ser profissa. A questão é que de vez em quando dou uma fuçada nas estatísticas de lá e não chego nunca a uma conclusão. Se a coisa tá rolando legal, se não acrescenta merda alguma, se a qualidade do som é de fundo de quintal, se minha vox sexy est, se tudo soa como redundância e arroubo wannabe. Pessoalmente, me diverte e me dá um certo trabalho, na mesma medida. Ah, e por último, se você escreve, gosta daquilo que fala, evita colocar vírgula entre sujeito e verbo e tá à toa na pequena área, estamos aí. Um link esperto, uma palavra bem colocada, uma cerveja ou um café no momento certo e o mau humor é morto com uma só cajadada na moleira.
Fim provisório da sessão "anybody out there?". O que sei é que tá quente aqui dentro e frio aí fora. Se você leu até aqui esta cartilagem de galinha em forma de texto, o problema é seu.
E para sumir de vez com o tarja preta, aí vai o vídeo daquele famoso show dos Cramps num hospital psiquiátrico americano:
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Preguiça passageira
Prometi um post sobre o disco novo do Depeche Mode, Sounds Of The Universe. Mas nada de teorias rudimentares ao acaso por ora. Aliás, alguém me avise se souber de um equivalente ao Google Analytics que forneça estatísticas sobre os gatos pingados que entram aqui e baixam os discos que passo adiante. Não é questão de serviço público, mas curiosidade.
Eu estava até pensando no que escreveria enquanto não tinha tempo de fazer isso, mas agora que estou desocupado... serve se eu só passar o link pra baixar? Tá aí no começo do texto, em azul. Serve se eu escutá-lo pela 15ª vez enquanto escrevo isto aqui e admitir que estou começando a gostar, embora ainda perca feio para o anterior, Playing The Angel? Posso dizer também que tem duas boas pérolas ali, "Fragile Tension" e "In Sympathy", que lembram várias outras mais antigas e por isso mesmo são o feijão com arroz palatável de bases eletrônicas com bom gosto e formato de single que se espera deles. E se eu disser que o tiozinho loiro afetado que comanda a nave, Martin Gore, compõe e executa tudo muito bem, mas que deveriam proibir o figura de fazer voz principal? Já me apontou um colega: a faixa "Jezebel", não bastasse o nome, tem uma interpretação vocal digna de um Michael Bolton. Também dá para conjecturar que os discos solo do Dave Gahan estão fazendo bem para o Moda Passageira (embora só as viúvas da banda deem bola), pois o vocalista está compondo mais e deixando os rascunhos de ideias e entulhos musicais para esse projeto paralelo quase invisível.
Bom, deu para notar que os comentários foram descaradamente preguiçosos e refletem o meu momento de meio de semana. Durante a feitura, soube que a banda cancelou uns shows no Leste Europeu devido a uns revertérios (sei...) do vocalista. Faço votos para que não façam o mesmo na época da provável vinda para cá, em outubro, e que a performance seja menos indolente que estas linhas aqui. Mas os ânimos de momento são voláteis e podem engatar uma segunda a qualquer virada de esquina. Assim como Sounds Of The Universe, que melhora com o passar do tempo após o enfado causado na primeira ouvida.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Estado de sítio
Falei tanto e acabei nem indo à Virada Cultural. O pretexto era irrecusável: três dias low-profile no sítio com amigos caríssimos (do melhor tipo que tem por aí), família do amigo gentilíssima, futebolzinho sedentário, terra na sola do pé e comilança. Optar entre fugir e ficar na cidade no único momento do ano em que ela se transforma em outra é, no mínimo, covardia. Sair do lugar sempre ganha do abstrair.
A questão é que ultimamente tenho conseguido enfiar o pé pra fora de SP menos do que gostaria. A grana apertada e a rotina estranha de trabalho não têm colaborado. Só para uma amiga neoparanaense, por exemplo, devo visita há uns seis meses. E cada vez mais funciono à base do susto, sem me programar demais. Dou cano em programa marcado com semanas de antecedência, mas a chance de você me encontrar se me ligar num sábado às onze e meia da noite é grande. No último feriado foi assim. A viagem não foi adiada aos 40 do segundo tempo. E a própria relação com a megalópole tem sido um xadrez estranho entre a monotonia contínua de vários curtos prazos seguidos e a dúvida sobre o que estarei fazendo no mês seguinte. Nada mais apropriado que um município chamado Piedade para dar aquele empurrão no momento de recarga.
Aliás, li poucos comentários empolgados com a Virada deste ano - sempre vinham com ressalvas do entulho de lixo, da muvuca e do aroma de mijo - e ainda terei a vantagem de sublimar os shows do Palco Brega até o ano que vem. Correr por estradinhas de terra ouvindo o Rei Robertão mandando "meu cachorro me sorriu latindo" por enquanto tem mais apelo do que pensar no Wando limpando o suor da testa com uma calcinha.
A questão é que ultimamente tenho conseguido enfiar o pé pra fora de SP menos do que gostaria. A grana apertada e a rotina estranha de trabalho não têm colaborado. Só para uma amiga neoparanaense, por exemplo, devo visita há uns seis meses. E cada vez mais funciono à base do susto, sem me programar demais. Dou cano em programa marcado com semanas de antecedência, mas a chance de você me encontrar se me ligar num sábado às onze e meia da noite é grande. No último feriado foi assim. A viagem não foi adiada aos 40 do segundo tempo. E a própria relação com a megalópole tem sido um xadrez estranho entre a monotonia contínua de vários curtos prazos seguidos e a dúvida sobre o que estarei fazendo no mês seguinte. Nada mais apropriado que um município chamado Piedade para dar aquele empurrão no momento de recarga.
Aliás, li poucos comentários empolgados com a Virada deste ano - sempre vinham com ressalvas do entulho de lixo, da muvuca e do aroma de mijo - e ainda terei a vantagem de sublimar os shows do Palco Brega até o ano que vem. Correr por estradinhas de terra ouvindo o Rei Robertão mandando "meu cachorro me sorriu latindo" por enquanto tem mais apelo do que pensar no Wando limpando o suor da testa com uma calcinha.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
E o Depeche Mode enfim anuncia vinda para o longínquo outubro. O disco recém-lançado deles, Sounds Of The Universe, ainda não desceu macio, mas quero escrever sobre ele em breve e conto com o bom humor no feriado para acolhê-lo melhor. Já o show é imperdível, sem dúvida. É só conferir o DVD Touring The Angel, da megaturnê do acachapante disco anterior. Dizem que o vocal do Dave Gahan é pleibequeado ao vivo, que a banda é cafona. Balela. Digo mais: o depechão velho-de-guerra ficou muito melhor nos anos 90 e 00, apesar de a maioria ensacá-los como mais um produto nostálgico dos 80's.
Confere aí o bizarro clipe novo.
Confere aí o bizarro clipe novo.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Nós somos os robôs
E lá se vai um mês preenchido com muito trabalho repetitivo. Tinha quase me desacostumado disso, por ultimamente basear minha repetição na falta de rotina. A pasmaceira da folga na quarta para virar a sexta à noite na labuta contrastava com o nada entediante frio na barriga pelo aperto de grana. Mas nada como mais um "sim" desafogador para retomar alguns velhos vícios e voltar a deixar de ver as madrugadas como partes divertidas do dia. Trabalhar com o modo mecânico ativado é fácil e é traiçoeiro. Se puder, faça em casa, com intervalos. Se a amiga chamar para um cinema ou o camarada cantar a bola da cerveja, por mais que pareça chover no molhado dizer isso, não hesite. Caso contrário, você vai sonhar com aquelas palavras se combinando feito peças do Tetris.
Pode ainda ficar pior se o seu caso (como foi o meu) for lidar com textos altamente técnicos e descontextualizados, em que você precisa se coçar para imaginar onde fica o mancal da bronzina da biela do eixo propulsor do solenóide (ainda com grafia pré-reforma) da marcha. Mais Chaplin com uma chave de fenda e a esteira de fábrica, impossível. Agora, se você saca de motor de carro, não tripudie.
Já nas "horas vagas", um pouco mais do mesmo: canetão vermelho, gente achando que inventou a roda vomitando a quintessência do clichê informativo, essas coisas. Nada de especial, e até já foi mais engraçado antes. O negócio é não se envolver, máxima que eu ouço desde o segundo ano da faculdade. Trabalho é só trabalho, etc. Tudo aqui pode soar um tanto modorrento, mas o ponto é que a moenda recomeça a funcionar antes de você mesmo reparar.
Pode ainda ficar pior se o seu caso (como foi o meu) for lidar com textos altamente técnicos e descontextualizados, em que você precisa se coçar para imaginar onde fica o mancal da bronzina da biela do eixo propulsor do solenóide (ainda com grafia pré-reforma) da marcha. Mais Chaplin com uma chave de fenda e a esteira de fábrica, impossível. Agora, se você saca de motor de carro, não tripudie.
Já nas "horas vagas", um pouco mais do mesmo: canetão vermelho, gente achando que inventou a roda vomitando a quintessência do clichê informativo, essas coisas. Nada de especial, e até já foi mais engraçado antes. O negócio é não se envolver, máxima que eu ouço desde o segundo ano da faculdade. Trabalho é só trabalho, etc. Tudo aqui pode soar um tanto modorrento, mas o ponto é que a moenda recomeça a funcionar antes de você mesmo reparar.
domingo, 19 de abril de 2009
A sarjeta é aqui
E corre o boca-a-boca sobre a vinda do Gutter Twins a São Paulo (e a Buenos Aires e a Santiago) em julho. Comentei sobre o belíssimo disco de estreia dos Twins ano passado, assim que coloquei os ouvidos nele. Tão áspero e dilacerado quanto as melhores gravações que Greg Dulli e Mark Lanegan vêm soltando recentemente, Saturnalia, o dito cujo, impressiona por manter a média de quase um ótimo disco por ano. Uns seis meses depois eles liberaram um EP virtual chamado Adorata, quase tão bonito quanto o anterior e cheio de covers inusitadas. Nem quando o Afghan Whigs e o Screaming Trees, bandas de origem dos gêmeos da sarjeta, estavam na ativa, eles eram tão produtivos (leia aqui sobre os outros projetos atuais da dupla). Enfim, usufrua a lei do menor esforço e baixe agora os dois discos de 2008.
Mas não consigo me empolgar com a notícia. Ainda não. Primeiro porque o myspace deles divulga apenas uma data no Bourbon Street. Nunca estive no requintado recinto, mas sei que a plateia assiste aos shows em mesas, com consumação igualmente luxuosa. Sem contar o próprio ingresso, abusivo até para quem ganha em euro. Foi o Bourbon que recebeu o famoso "show de despedida" do B.B. King cobrando a mixaria de 900 reais para ouvir, sem o direito de molhar o beiço, o velho bluesman debulhar sua Lucille. Nada de Gutter Twins em palcos médios e acessíveis como a Choperia (ou o Teatro) do Sesc, a Easy ou mesmo o Studio SP, mais próximos do universo deles. Não por enquanto.
O segundo porém é a possibilidade de eles virem sem a banda completa, como vinham fazendo recentemente, para tocarem versões mais, digamos, 'intimistas' de músicas de todos os projetos dos caras. Apesar da vontade de conferir ao vivo "Hit The City" (da Mark Lanegan Band) ou "Bonnie Brae" (do Twilight Singers), entre inúmeras outras, o cheiro de solução acochambrada é inevitável. E há pouco tempo tivemos outras visitas do tipo no Brasil, com gente como Bonnie "Prince" Billy e Young Gods, para citar poucos, desempenhando em formatos low-profile e causando certo desapontamento por terem sido menos do que poderiam.
Resta esperar esses longos dois meses até lá e torcer para que marquem mais datas em locais que não sejam adeptos da extorsão, de preferência com a banda inteira. Tal como o trio Medeski, Martin & Wood, que fez um dos melhores shows do ano passado por aqui em duas noites esgotadas no Sesc Vila Mariana e umazinha no Bourbon. Com certeza também não faltará público para Dulli e Lanegan. E convenhamos: se eles não derem nem uma chegada pelo famigerado Baixo Augusta, poderão trocar o nome para The Fancy Twins.
Mas não consigo me empolgar com a notícia. Ainda não. Primeiro porque o myspace deles divulga apenas uma data no Bourbon Street. Nunca estive no requintado recinto, mas sei que a plateia assiste aos shows em mesas, com consumação igualmente luxuosa. Sem contar o próprio ingresso, abusivo até para quem ganha em euro. Foi o Bourbon que recebeu o famoso "show de despedida" do B.B. King cobrando a mixaria de 900 reais para ouvir, sem o direito de molhar o beiço, o velho bluesman debulhar sua Lucille. Nada de Gutter Twins em palcos médios e acessíveis como a Choperia (ou o Teatro) do Sesc, a Easy ou mesmo o Studio SP, mais próximos do universo deles. Não por enquanto.
O segundo porém é a possibilidade de eles virem sem a banda completa, como vinham fazendo recentemente, para tocarem versões mais, digamos, 'intimistas' de músicas de todos os projetos dos caras. Apesar da vontade de conferir ao vivo "Hit The City" (da Mark Lanegan Band) ou "Bonnie Brae" (do Twilight Singers), entre inúmeras outras, o cheiro de solução acochambrada é inevitável. E há pouco tempo tivemos outras visitas do tipo no Brasil, com gente como Bonnie "Prince" Billy e Young Gods, para citar poucos, desempenhando em formatos low-profile e causando certo desapontamento por terem sido menos do que poderiam.
Resta esperar esses longos dois meses até lá e torcer para que marquem mais datas em locais que não sejam adeptos da extorsão, de preferência com a banda inteira. Tal como o trio Medeski, Martin & Wood, que fez um dos melhores shows do ano passado por aqui em duas noites esgotadas no Sesc Vila Mariana e umazinha no Bourbon. Com certeza também não faltará público para Dulli e Lanegan. E convenhamos: se eles não derem nem uma chegada pelo famigerado Baixo Augusta, poderão trocar o nome para The Fancy Twins.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Flanada anual
Acabei de ver a programação da Virada Cultural deste ano e mais uma vez o evento promete. Não digo isso apenas pelas pencas de atrações grátis ao ar livre em vários palcos espalhados pelo glorioso centrão paulistano, mas principalmente pela oportunidade de percorrer todo esse intrigante universo a pé durante um dia - e boa parte de madrugada, o que é mais legal ainda. Nem parece o mesmo lugar.
Em 2007, ano daquele fatídico show dos Racionais na Sé, cometi a infame proeza de ficar em casa. Pelos causos que ouvi, passei a semana seguinte hediondamente arrependido. Ano passado, quando fui pela primeira vez, esqueci por vários momentos o que aquela região encantadora e tenebrosa representa nos demais dias do ano.
Cheguei cedo com meu irmão pra pegar um show memorável do Mundo Livre em frente ao ex-estágio Pateo do Collegio. A sequência tortuosa teve a boa velharada Germano Mathias e Vai-Vai, a musa Marina de la Riva, a quebradeira do Macaco Bong, vários amigos, latinhas de cevada e conhecidos pelo caminho e o desfecho com uma bela sequência de DJs na tenda da Quintino Bocaiuva, onde rolou new wave e surf music com clima de Carnaval do interior de Minas. Passei pela tangente de uma procissão atrás do Zé Ramalho na São João. Nem cheguei perto das filas do Teatro Municipal e devo passar longe de novo em 2009. Me dei por satisfeito umas quatro da matina e o metrô me despejou de volta até a Barra Funda num horário em que ele costuma dormir. Ok, quem tiver conferido todo o cronograma dirá que perdi gente mais interessante, como a cariocada Orquestra Imperial e Do Amor, ou mesmo os gagás Jorge Ben, Mutantes e Afrika Bambaataa. I couldn't care less. Foi uma noite sensacional.
Este ano, uma das metas é conferir alguma coisa do Palco Brega, no Arouche. Destaque para uma sequência genial: Wando, Reginaldo Rossi e Beto Barbosa. Benito di Paula abre os trabalhos no sábado. No dia seguinte tem Odair José, o Roger Waters do rodízio de carnes. Tudo grátis. Diversão garantida. Ano passado perdi o Nelson Ned por lá, mas reza a lenda de que foi melancólico em excesso, uma espécie de Elvis fase Las Vegas versão paraolímpica. Por outro lado, é legal se programar para a Virada justamente pela chance pequena de você conseguir ver tudo o que pretende. Com certeza você vai encontrar alguém que conhece quando estiver cruzando a Barão de Itapetininga ou comprando Skol de isopor no Viaduto do Chá. E provavelmente a sua rota vai mudar por conta dessa(s) outra(s) pessoa(s) no caminho.
O lamuriento de plantão poderá dizer que várias atrações, refletindo o panorama da música pop brasileira atual, são caidonas. Ou que o evento estimula o que há de mais sórdido no tenso e desgostoso cidadão da capital em caráter de multidão. Talvez tudo isso seja em parte verdade (a má fé às vezes também se manifesta por aqui). Mas, acima de tudo, é uma das poucas chances atuais de o calejado morador paulisteño ainda se surpreender com a cidade. E o que é melhor: sem pagar estacionamento, sem pegar fila (salvo exceções), sem gente nervosa e sem ficar entalado na Marginal com 257 Peugeots à sua frente. É daqui a duas semanas.
Em 2007, ano daquele fatídico show dos Racionais na Sé, cometi a infame proeza de ficar em casa. Pelos causos que ouvi, passei a semana seguinte hediondamente arrependido. Ano passado, quando fui pela primeira vez, esqueci por vários momentos o que aquela região encantadora e tenebrosa representa nos demais dias do ano.
Cheguei cedo com meu irmão pra pegar um show memorável do Mundo Livre em frente ao ex-estágio Pateo do Collegio. A sequência tortuosa teve a boa velharada Germano Mathias e Vai-Vai, a musa Marina de la Riva, a quebradeira do Macaco Bong, vários amigos, latinhas de cevada e conhecidos pelo caminho e o desfecho com uma bela sequência de DJs na tenda da Quintino Bocaiuva, onde rolou new wave e surf music com clima de Carnaval do interior de Minas. Passei pela tangente de uma procissão atrás do Zé Ramalho na São João. Nem cheguei perto das filas do Teatro Municipal e devo passar longe de novo em 2009. Me dei por satisfeito umas quatro da matina e o metrô me despejou de volta até a Barra Funda num horário em que ele costuma dormir. Ok, quem tiver conferido todo o cronograma dirá que perdi gente mais interessante, como a cariocada Orquestra Imperial e Do Amor, ou mesmo os gagás Jorge Ben, Mutantes e Afrika Bambaataa. I couldn't care less. Foi uma noite sensacional.
Este ano, uma das metas é conferir alguma coisa do Palco Brega, no Arouche. Destaque para uma sequência genial: Wando, Reginaldo Rossi e Beto Barbosa. Benito di Paula abre os trabalhos no sábado. No dia seguinte tem Odair José, o Roger Waters do rodízio de carnes. Tudo grátis. Diversão garantida. Ano passado perdi o Nelson Ned por lá, mas reza a lenda de que foi melancólico em excesso, uma espécie de Elvis fase Las Vegas versão paraolímpica. Por outro lado, é legal se programar para a Virada justamente pela chance pequena de você conseguir ver tudo o que pretende. Com certeza você vai encontrar alguém que conhece quando estiver cruzando a Barão de Itapetininga ou comprando Skol de isopor no Viaduto do Chá. E provavelmente a sua rota vai mudar por conta dessa(s) outra(s) pessoa(s) no caminho.
O lamuriento de plantão poderá dizer que várias atrações, refletindo o panorama da música pop brasileira atual, são caidonas. Ou que o evento estimula o que há de mais sórdido no tenso e desgostoso cidadão da capital em caráter de multidão. Talvez tudo isso seja em parte verdade (a má fé às vezes também se manifesta por aqui). Mas, acima de tudo, é uma das poucas chances atuais de o calejado morador paulisteño ainda se surpreender com a cidade. E o que é melhor: sem pagar estacionamento, sem pegar fila (salvo exceções), sem gente nervosa e sem ficar entalado na Marginal com 257 Peugeots à sua frente. É daqui a duas semanas.
domingo, 12 de abril de 2009
Resolvi republicar os posts mais antigos e deixá-los espalhados pelo histórico. A medida não é revolucionária, apenas estética. Afinal, o que é subversivo hoje? Comprar uma estante nova para aquela parede subutilizada pode até trazer uma lufada de vento fresco para minha caixa torácica, mas vai no máximo me fazer admirá-la por horas e horas embasbacado. Tascar uma casca de banana na varanda do vizinho ganjaman do andar de baixo me transforma apenas no arquetípico orangotango sociopata de mesmo porte do exalador de erva e tecneira da qualidade mais ralé.
E porra, o que toda essa punhetagem rasteira tem a ver com republicar posts velhos? Sei lá, para tudo se usa um pretexto. Toda hora a gente pensa que está dando um cavalo de pau na própria vida, sem perceber na maioria das vezes que o giro é em falso.
E porra, o que toda essa punhetagem rasteira tem a ver com republicar posts velhos? Sei lá, para tudo se usa um pretexto. Toda hora a gente pensa que está dando um cavalo de pau na própria vida, sem perceber na maioria das vezes que o giro é em falso.
terça-feira, 24 de março de 2009
Como desaparecer totalmente
That there
That's not me
I go
Where I please
I walk through walls
I float down the Liffey
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
In a little while
I'll be gone
The moments already passed
Yeah it's gone
And I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
Strobe lights and blown speakers
Fireworks and hurricanes
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
Em que momento você descobre que se tornou invisível? Muitas vezes, é não muito antes de desaparecer de fato, a poucas gradações de cores antes de chegar à ausência completa delas. O peso do corpo ainda te mantém em câmera lenta e sem saber exatamente para que direção prosseguir. Já o invisível pode ir para qualquer lado - simultaneamente, inclusive. É a conquista da onipresença pós-vida. Não adianta mais pedir ajuda, reclamar, tentar se olhar por fora e se reformular. Tampouco vale ser altruísta, sumir por meio da atenção ao próximo, usar as ideias vizinhas como arbustos. Estratégias de fuga so o tornaram ainda menos presente para si mesmo. Nada mais funciona. Nem as muletas da indulgência e da preservação consigo próprio surtem mais tanto efeito. Afinal, que adianta usar o último lote de energia se você mesmo já se considera fora de alcance? Algum espaço continua sendo ocupado: um peso incolor que remotamente talvez cause certo incômodo alheio apenas por fazer lembrar de sua própria sobrevivência. De tanto se frustrar procurando espelho na casa dos outros, o ser invisível assumiu-se nesta atual condição: nem ele mesmo se vê, não se pertence mais.
That's not me
I go
Where I please
I walk through walls
I float down the Liffey
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
In a little while
I'll be gone
The moments already passed
Yeah it's gone
And I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
Strobe lights and blown speakers
Fireworks and hurricanes
I'm not here
This isn't happening
I'm not here
I'm not here
Em que momento você descobre que se tornou invisível? Muitas vezes, é não muito antes de desaparecer de fato, a poucas gradações de cores antes de chegar à ausência completa delas. O peso do corpo ainda te mantém em câmera lenta e sem saber exatamente para que direção prosseguir. Já o invisível pode ir para qualquer lado - simultaneamente, inclusive. É a conquista da onipresença pós-vida. Não adianta mais pedir ajuda, reclamar, tentar se olhar por fora e se reformular. Tampouco vale ser altruísta, sumir por meio da atenção ao próximo, usar as ideias vizinhas como arbustos. Estratégias de fuga so o tornaram ainda menos presente para si mesmo. Nada mais funciona. Nem as muletas da indulgência e da preservação consigo próprio surtem mais tanto efeito. Afinal, que adianta usar o último lote de energia se você mesmo já se considera fora de alcance? Algum espaço continua sendo ocupado: um peso incolor que remotamente talvez cause certo incômodo alheio apenas por fazer lembrar de sua própria sobrevivência. De tanto se frustrar procurando espelho na casa dos outros, o ser invisível assumiu-se nesta atual condição: nem ele mesmo se vê, não se pertence mais.
quarta-feira, 18 de março de 2009
A vez
Não se tem o que dizer, mas sempre é preciso. Se não for dito, fica-se para trás, fora do alcance do retrovisor. E nem um pedido pela vez da palavra em público será suficiente. É como sair correndo feito peru bêbado em plena avenida. Como aquele jogo Frogger, do Atari. Um amontoado de sapos esmagados que nem tomate. O seu balbuciar inicial é atropelado. A sua fração de segundo de formulação é amputada. Vira uma situação forçada, em que você vai reverter o jogo se apelar para a autopiedade, a súplica e a relativa (falta de?) boa vontade alheia. Resta a estupidez ou a saída pela direita.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Por um cafofo mais limpo
O ano ainda não começou por aqui. Mas tem coisa acontecendo em outros espaços por aí. Estreei meu podcast. A cada edição, um tema e um co-apresentador diferente. Não repare nos recursos precários. A porta do cafofo está aberta e a cerveja está gelando...
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