quinta-feira, 7 de dezembro de 2006
Tom Waits - Swordfishtrombones
Começa pelo óbvio: um cachorro molhado bufando uísque e estalando os dedos. O paletó bege, quarado ao sol em varal de improviso, exala aromas de fumaça e de um milharal mal cuidado. A cabeça tamborila impiedosamente a cada centímetro que se distancia do chão. O corpo está cheio de pequenos hematomas de dias atrás, amarelados e solenemente ignorados. O adubo seco encrustado nos vãos da sola do mocassim se desprende aos poucos. A cachorrada - a de verdade - uiva com languidez lá dos fundos. Soa como cordas de violinos afinadas antes do concerto. Mastins napolitanos de fraque e galgos de cacharrel, todos com a garganta entupida de pigarros e se empertigando até o rufar do tornado. Os comprimidos para aplacar a labirintite se dissolveram no calor úmido - fundiram-se numa gosma uniforme de tom sujo e esbranquiçado. "Melhor guardar de volta", pensa. A mão faz um gesto curvado para baixo, supondo que o recipiente vá cair dentro do bolso ao ser largado pelos dedos. No entanto, a desatenção trêmula faz o vidro escorregar por fora, se despedaçando no ladrilho morno. A calça de cinto desafivelado pende para baixo, pesada. Os bolsos transbordam de papéis socados - talvez por isso o trajeto de retorno do remédio tenha terminado em acidente. Bolas e tiras amassadas de papel quase que escapam sozinhas dos bolsos, como líquens invadindo o muro do vizinho. "Melhor colocá-las de vez para fora", rosna o Rottweiller, com voz de poucos amigos.
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4 comentários:
hehe... vc usa drogas, cara?
Só faltaram os suspensórios e o navio pirata.
Me lembrou a barata do Kafka...Eu sempre me tive uma dúvida: quem falou que aquele inseto era uma barata. Agora se me permite: foi você Lu?
hahahahahahahahha....do andar de cima?
Foi o Inimigos do Rei que disse isso.
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