sábado, 22 de abril de 2006

The Raconteurs - Broken Boy Soldiers (2006)



Sou daqueles que torcem o nariz quase de imediato a hypes do novo roquismo, apesar de acompanhar uma ou outra banda à distância. Os critérios que vou usando para ir atrás ou descartar o que a mídia especializada anda babando o ovo são um tanto incoerentes e obscuros. Enquanto não chega o momento em que alguém dessa 'leva dos anos 00' transcenda à perenidade - por meio de trabalhos mais consistentes ou pelo bom 'envelhecimento' dos já lançados - vou me guiando por este faro subjetivo. Mas isso não importa agora.

O que interessa como prólogo à audição de Broken Boy Soldiers é: o White Stripes, banda que divide Jack White com os estreantes Raconteurs, nunca me desceu direito. Ok, o cara tem algum talento, saca um bocado de guitarra e de autopromoção, mas sua banda sempre me soou ordinária, comum. Voz entre o esganiçado e o histérico, blues sujo e garageiro como dezenas de bandas americanas já fizeram com igual ou maior competência, e alguma habilidade para compor músicas marcantes (subutilizada em "Seven Nation Army", o hit mais chato de 2003). Sem contar as excentricidades da dupla sempre prevalecendo à música, o que depõe muito contra. E Brendan Benson, o outro membro 'manjado' dos Raconteurs? O pouco que conhecia remetia a um Elliott Smith mais dado a amenidades. Só confirmava minha baixa expectativa para esse projeto.

O disco, no entanto, quase consegue a proeza de unir o melhor dos dois mundos. A começar pela música de trabalho, "Steady, As She Goes", a primeira a cair na internet: um power pop caprichado, que valoriza os backing vocals e com guitarras moldando um senso melódico na escola do Big Star (banda setentista lendária, mas com pouco reconhecimento de público). Muito do material que a segue vai por um caminho parecido. A faixa-título, "Intimate Secretary" e "Store Bought Stones" são exemplos de como a banda emula impiedosamente Led Zeppelin nos agudos de Jack White, nas slide guitars, nos riffs inventivos, nos arranjos que crescem com ajuda de violões folk e de uma cozinha pesada. Os anos 70, e em especial as duas bandas daquela década citadas aqui, emprestam as principais ferramentas dos Raconteurs.

E não pára por aí. "Yellow Sun" lembra a introdução de "Pinball Wizard", do Who. A faixa que encerra o disco, "Blue Veins", entrega ainda mais: dá pra imaginar Jack White ouvindo sem parar "Since I've Been Loving You", aquele épico blues rock zeppeliano, enquanto a compunha. Ou quem sabe a fonte tenha sido "I Want You", o momento mais dilacerado de John Lennon em Abbey Road. No meio disso tem a balada "Together", talvez a principal composição de Benson no disco, acenando tanto para essa atual onda neo-folk como para os caipiras originais dos anos 60 e 70.

Broken Boy Soldiers é, sim, um álbum bem retrô. O elemento diferencial que os joga de volta ao presente - livrando a cara deles da suposta acusação de 'nostalgia do não-vivido' - está no simples poder de concisão, típico do rock feito nesta década. Nada sobra nas dez faixas, tudo é bem dosado e pouco reafirma os excessos do rock de arena ao qual boa parte do hard rock dos 70's descambou antes do punk surgir.

Ah, e eu disse que há QUASE o melhor dos dois mundos de JW e BB? Deve ser porque eles mal se juntaram e ainda estão no caminho... e tudo bem, o primeiro dos White Stripes até que é bacana.

5 comentários:

rmussilac disse...

eu só preciso dizer, que pra quem conhece esses caras...esse texto é um achado!

Anônimo disse...

Você não acha retrô demais? O show do Oasis aqui na terra da garoa recebeu uma das melhores críticas que li nos últimos anos. O cara analisava passo a passo o concerto e depois, sem corrosão dizia, como um pai sábio diz a um filho inexperiente (o que tornava a crítica ainda mais ácida apesar da doce sutileza): "Fica como lição de casa, Oásis, que da próxima vez vocês não façam somente um show tão bom como fizeram, mas que introduzam novos elementos, novas cartas na mesa. Que se integram com a atualidade" Eram outras as palavras, mas a idéia é esta!

Anônimo disse...

Oi, meu panda-bambi preferido! Posso te confessar? Não li o seu texto td! mas vc escreve muito bem sobre isso! Tem q desbancar álvaro pereira jr. e afins! ahahahahhaha
Beijos!

rmussilac disse...

Tá lá...é só se deliciar!

Anônimo disse...

ei mulherada, vamos tirando as patinhas? hahahahha