Tive um sonho quase kubrickeano essa semana. Era como se uma espécie de nave espacial voasse durante horas pelo céu da Terra, mas apesar de meu campo de visão ser o de quem está dentro dela, eu observava de um lugar à parte. Um recinto tão escuro e direcionado quanto uma sala de cinema, mas sem poltronas, cheiro de pipoca amanteigada e gente sem educação no celular. De um enorme painel transparente dianteiro dava para ver o que passava lá embaixo, uma mistura de paisagem rural e urbana: pastos, árvores agrupadas, vegetação e rios, mas também prédios, carros e avenidas. Não me lembro de ver pessoas. A embarcação voadora também não tinha nenhum equipamento para controlá-la e se resumia a um salão vazio e amplo, com paredes de aço e chão cheio de círculos de vidro por onde também dava para contemplar o panorama externo.
Para complementar, mais dois detalhes bizarros. Primeiro: apesar de ter certeza de que estava sobrevoando a Terra, a maior parte da paisagem fora da nave, com exceção de alguns detalhes, tinha cores parecidas - marrons, avermelhadas, cor de terra e poeira. Uma espécie de híbrido de Terra com Marte, o que agora me faz lembrar do filme não kubrickeano Vingador do Futuro. Outro ingrediente era uma voz masculina plácida, grave e agradável, que, como um veterano narrador do Discovery Channel, explicava o que se via e acrescentava "dados confidenciais importantes", como o fato de a Terra ser um grão de areia em relação ao universo; a possibilidade de haver vida fora dela ser considerável; e a incapacidade da tecnologia do planeta impedir que esses seres conheçam a Terra e os humanos caso assim queiram. Depois, enquanto uma música eletrônica onírica e marcial surgia e se intensificava, a voz ficava repetindo esse mesmo tipo de informação com a mesma calma e naturalidade didática, mas usando palavras diferentes.
Acordei no susto. Não olhei que horas eram, mas o dia ainda não estava totalmente claro. Horário de verão desnorteia os desavisados. Na verdade, barulhos estranhos - pelo menos para aquela hora - chegavam do hall do andar até os meus ouvidos semiconscientes: passos pesados e rápidos, aparentemente de mais de uma pessoa. Achei que talvez estivessem assaltando o prédio, passando apressadamente por cada andar, e resolvi aceitar um novo convite ao sono e ignorar uma eventual batida na porta. Nem sempre é recomendável subestimar o inconsciente.
sábado, 14 de novembro de 2009
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