Embora alguns sem-noção como este que aqui escreve ainda resistam bravamente, todos sabem que a abolição do CD para o grande público é iminente. Nenhuma novidade até aqui. Mas, entre os que respiram música e procuram constantemente alimento para os ouvidos, nem todos se deram conta do processo "evolutivo". Muitos discos que ainda nem saíram em formato físico chegam quentinhos no desktop e vão para a lixeira poucos dias depois (às vezes, poucos minutos depois), quase despercebidos. Entram por um ouvido e saem pelo outro, literalmente. Aqui vão alguns que passaram por aqui nas últimas semanas, todos lançados/vazados em 2008. Em breve, mais uma fornada.
Death Cab For Cutie - Narrow Stairs
Conhecia de nome e sabia que um dos membros produziu um disco recente do Nada Surf. O pouco que ouvi de Plans, álbum anterior deste quarteto americano, já avisava: tudo bonitinho, limpinho, insípido, devagar, quase parando. Deveria ter parado por ali, mas sou cabeça-dura. Banda adorada por indie-rockers nerds (pleonasmo?) do hemisfério norte, o DCFC faz a típica trilha de séries como O.C., com músicas longas, sem pegada, sem melodia marcante. Letras "rapazinho sensível" com pretensões literárias - tem até citação a Kerouac - mas sem inspiração. Guitarrinhas murchas, voz comportada, teclados modorrentos e contínuos. Sono, muito sono. Ouvir Narrow Stairs de cabo a rabo é como comer aquela sobremesa que ficou semanas na geladeira.
Hold Steady - Stay Positive
Tiozinhos elogiados por sites gringos como o Pitchfork e presença constante em listas de melhores do ano de revistas tipo Uncut, Mojo e yadda-yadda-yadda. A banda até que é boa: influências de Springsteen e Replacements, refrãos que funcionam em arena e letras espertas que, na verdade, são pequenos contos sobre gente bêbada e passional. Os únicos problemas com este disco são:
(1) O vocalista, com sua indefectível voz de pato, precisa de um fonoaudiólogo urgente. E a cada faixa ele insiste nos mesmos maneirismos: voz anasalada proferida com sofreguidão, quebrando a métrica. Começa a cansar na metade.
(2) De vez em quando a banda finca o pé na farofa. Uma faixa, por exemplo, é conduzida por um cravo, instrumento de gosto bem duvidoso. Em outra, uma belíssima balada, entra uma guitarra solando à la Richie Sambora.
Howlin' Rain - Magnificent Friend
Definida por muitos como o Purple clássico com os vocais de Rod Stewart dos bons tempos (anos 60 e 70), esta banda de San Francisco é exatamente isso e não vai muito além. Não que seja pouco. A mistura de soul, hard rock, blues e psicodelia, com direito a timbres e produção vintage, chega a empolgar em alguns momentos. Ao vivo deve ser potente. Com uma cerveja geladíssima acompanhando, então, perfeito. Poderia ser daquelas bandas que nunca gravam, só viajam por aí tocando em feirinhas da Pompéia, viradas culturais e bibocas da Louisiana. Mas o disco, embora interessante, chega a ser caricato. E nem seria preciso dizer, mas vá lá: não faz nem sombra a um Exile on Main Street ou mesmo aos melhores do Black Crowes.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
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