Para muita gente, eles já deram o que tinha que dar. É a parcela do que público que, embora ainda preze a banda e ouça seus principais hits, deixou de acompanhá-los em algum momento dos anos 90. E é bem provável que esses quarentões da Geórgia, no sul dos EUA, já tenham deixado os demais mortais a par sobre os seus melhores trabalhos. Eu mesmo já havia parado de prestar atenção no que o R.E.M. lançava desde o irregular Up, de 98. Ok, tive vontade de vê-los três anos depois, no Rock in Rio III, mas não deu - acabei me contentando com um show farofeiro e no piloto automático dos Chili Peppers. Demorei até gostar de verdade do Reveal, um disco belo e subestimado. Já o mais recente Around The Sun, de 2004, ouvi poucas vezes ao pegar emprestado de um amigo que é grande fã da banda. Foi o suficiente para carimbá-lo como o ponto mais baixo, talvez o único momento constrangedor em 20 e tantos anos. Posso estar sendo simplista, mas discurso político pró-democratas (foi lançado pouco antes do Bush se reeleger em cima do Kerry) e arranjos eletrônicos broxas não combinam com Stipe, Mills & Buck.
O forte deles sempre foram canções redondas. Baladas matadoras acústicas e orquestradas, levadas roqueiras intensas e boas canções pop, sempre com sotaque interiorano estadunidense e forte apelo universal. Mas a alternância entre os momentos introspectivos (ouça o New Adventures in Hi-Fi inteiro) e efusivos ("Shinny Happy People" é o exemplo mais óbvio) parecia começar a cair pelas tabelas. Accelerate, o novo disco que está para sair, inverte toda essa lógica. Havia tempos que a banda não soava tão energética e concisa. A empolgante seqüência das três primeiras faixas já denuncia: Peter Buck, com quase cinqüenta anos, volta ao primeiro plano e continua sendo ótimo guitarrista. Com faixas curtas e roqueiras, o disco soa como uma versão mais otimista do melancólico Monster, de 94, álbum distorcido e com gosto amargo pós-suicídio de Kurt Cobain. Ainda ouvi poucas vezes o novo, mas já arrisco dizer que me enganei ali em cima: talvez o R.E.M. ainda possa surgir com material tão bom quanto o melhor que já fez. Accelerate dá essa pista.